Os dados relativos ao final do primeiro trimestre e ao início de abril já mostram os primeiros danos da pandemia do novo coronavírus na economia brasileira. Dado que as medidas de isolamento passaram a ser adotadas apenas na segunda quinzena de março, tudo sugere que o impacto será ainda maior nos próximos meses.
Ao menos 5 milhões de trabalhadores, cerca de 15% dos que contam com carteira assinada no país, já tiveram seus empregos e salários afetados pela crise, segundo dados do Ministério da Economia.
Instituiu-se a flexibilização dos contratos de trabalho para evitar a perda de empregos. Pelas regras, jornadas e remunerações podem ser reduzidos por três meses, com compensação parcial pelo governo.
Por este programa, 4,3 milhões tiveram seus contratos alterados desde o início de abril. A queda da renda ficou em 15%, em média, uma vez contados os aportes públicos.
Mesmo com o regime mais maleável, a alta de pedidos de seguro-desemprego sugere a perda de 1 milhão de postos de trabalho entre o início de março e 15 de abril.
Não há duvida, de todo modo, de que a flexibilização ajuda a evitar o fechamento definitivo de muitos postos e contribui para eventual retomada mais rápida da economia.
A lógica da iniciativa não difere da que tem sido adotada em muitos países. No caso brasileiro, contudo, a eficácia acaba limitada pelo elevado grau de informalidade. Os trabalhadores nessa situação ficam dependentes da ajuda direta do Estado, como no programa que transfere R$ 600 por mês.
O quadro grave torna-se mais evidente quando se observa a queda da ocupação no trimestre encerrado em março, medida pelo IBGE. De 2,3 milhões de vagas fechadas, nada menos que 1,9 milhão diz respeito a postos informais ou por conta própria. Trata-se de recorde.
A taxa de desemprego no período subiu para 12,2%, ante 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro. A alta parece pequena, mas está mascarada pela sensível queda do número de pessoas em busca de trabalho —até pela impossibilidade do momento de quarentena.
O ponto a destacar é que os dados ainda não contemplam o período de agravamento da crise, a partir de abril. A julgar pelo que se observa em países mais adiantados na evolução da pandemia, a queda do Produto Interno Bruto no segundo trimestre tende a ser de rara profundidade.
O grande risco é uma paralisia mais prolongada da atividade, o que dependerá do ritmo de disseminação do novo coronavírus.
A pressa em abrir a economia pode levar a um cenário pior, se uma precipitação levar a um descontrole do contágio. Nessa hipótese, serão necessárias medidas de restrição mais drásticas e duradouras, a custos hoje incalculáveis.
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