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Alívio à vista

Recuo na taxa de contágio do coronavírus é boa notícia, mas não permite folga

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João Doria (PSDB), governador de São Paulo, que viu as mortes por Covid-19 subirem após autorizar a reabertura do comércio no estado
João Doria (PSDB), governador de São Paulo, que viu as mortes por Covid-19 subirem após autorizar a reabertura do comércio no estado - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Em meio a tantas más novas sobre a pandemia de Covid-19, a informação de que a taxa de contágio vem caindo no Brasil surge como raro alívio. O cálculo, realizado pelo Imperial College de Londres, indica que o importante indicador epidemiológico recuou por três semanas em sequência.

Esse número, conhecido como Rt, indica a velocidade com que a doença avança na população. No momento, o valor estaria em 1,05 no país, o que equivale a dizer que 100 infectados transmitem o coronavírus para outras 105 pessoas, estas para 110,25, e assim por diante.

Na semana anterior, a cifra era ligeiramente maior, 1,08; no final de abril, desenfreados 2,8. A aproximação daquele limiar que separa a transmissão fora de controle da epidemia em regressão sugere que a doença se encontra perto de alcançar um patamar a partir do qual poderia começar a retroceder —vale dizer, Rt abaixo de 1.

Quantidades decrescentes de novas infecções e mortes diárias não são favas contadas, porém. A suspensão abrupta do distanciamento social, como parece ocorrer em vários pontos do território, pode bem manter-nos num platô elevado ou até desencadear uma segunda onda do flagelo que já apanhou quase um milhão de brasileiros e deixou mais de 47 mil mortos.

Tome-se o exemplo do estado de São Paulo, foco principal da epidemia com 20% dos casos e 25% dos óbitos confirmados no país. A melhora em alguns parâmetros adotados pela administração de João Doria (PSDB) levou-a a iniciar um afrouxamento regionalizado da quarentena que alguns especialistas consideram precipitado.

Após celebrar na segunda-feira (15) a primeira queda no total semanal de óbitos —em realidade, um recuo de apenas três mortes, de 1.526, registrados de 31 de maio a 6 de junho, para 1.523, de 7 a 13 de junho—, o governo paulista viu o recorde de fatalidades registradas ser superado na terça (365 falecimentos) e na quarta (389).

Em paralelo, multiplicavam-se as aglomerações de pessoas com a abertura de centros de compras na capital e na Grande São Paulo. Não será surpresa se a taxa de contaminação voltar a sair de controle na região metropolitana, deixando assim de compensar a progressão em curso no interior.

Os próprios dados à disposição de governadores e prefeitos para fundamentar medidas contra a Covid-19 são, de resto, precários. A subnotificação é enorme, e a quantidade de testes realizados, uma das mais baixas no mundo. Em pelo menos seis estados ainda preocupa o nível de lotação de UTIs, acima de 80%.

Nessas condições, a saída atabalhoada de quarentenas já precariamente cumpridas arrisca lançar o país numa nova espiral de infecções e mortes pelo coronavírus.

editoriais@grupofolha.com.br

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