No nosso imaginário, o(a) dentista está no consultório, junto à cadeira odontológica com sua auxiliar, associado ao “cheiro de dentista” (cheiro de cravo clássico) e o seu famoso motorzinho.
No Brasil, o dentista foi incluído no SUS (Brasil Sorridente, a partir de 2003), integrando as Equipes de Saúde da Família e atuando também nos demais níveis de atenção.
O que em geral não nos damos conta é que o dentista também atua nos hospitais, atendendo pacientes, na resolução de quadros de dor de dente, infecção dentária ou outras complicações orais.
O cuidado com a saúde bucal tem total relação com uma melhor resposta ao tratamento médico, é fundamento prévio a procedimentos como os transplantes de órgãos e tratamento oncológico. A odontologia hospitalar une a técnica e a ciência da profissão com o conhecimento da saúde geral e atua em equipe multiprofissional.
E em tempos de pandemia por Covid-19? Os dentistas estão na linha de frente dentro dos hospitais atuando juntamente com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, atendendo os pacientes à beira do leito nas UTIs e nas enfermarias, muito longe da visão clássica do dentista e sua cadeira odontológica.
Os atendimentos odontológicos são essenciais nos pacientes com Covid-19 devido às alterações bucais que ocorrem pelo longo período de intubação, como machucados nos lábios e língua, assim como a necessidade de conter sangramento dessas áreas, colocação de aparelhos dentro da boca (para que os pacientes parem de morder o tubo da ventilação mecânica), retirada de dentes pelo risco desses se soltarem durante este período, diagnóstico de doenças e lesões orais, realização de procedimentos odontológicos por conta de dor de dente ou de gengiva e o tratamento das infecções orais.
Adaptações da estrutura e da forma de realizar o atendimento possibilitam que o dentista possa tratar o paciente no próprio leito de internação, resolvendo o problema sem que seja necessário o seu deslocamento para o consultório odontológico.
A demanda odontológica é crescente e extremamente dependente do tempo de intubação a que os pacientes são submetidos. Além dos atendimentos odontológicos (aplicação de laser de baixa potência nas lesões orais traumáticas, extração dentárias, instalação de protetores bucais, contenção de sangramento e remoção de focos infecciosos), a equipe de odontologia realiza treinamentos de protocolos de higiene oral com a equipe de enfermagem, para que a realizem nos pacientes em UTI.
A própria equipe elabora artigos científicos sobre os procedimentos realizados durante a pandemia por Covid-19, avaliação dos dados pertinentes a esses pacientes que evoluíram para um quadro grave da doença e promove a capacitação dos alunos e de dentistas de outros hospitais.
A literatura cientifica e a prática diária mostram os benefícios dos cuidados com a saúde bucal. O tratamento odontológico é fundamental para a redução de complicações, melhora da resposta ao tratamento médico instituído e implementação da qualidade de vida e conforto oral do paciente.
Quem ganha com a presença e a atuação do dentista nos hospitais? A saúde de todos.
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