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A chaga da cracolândia

Arrastão em SP volta a expor drama que exige ação policial e assistência social

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Arrastão na cracolândia do centro de São Paulo - Reprodução

O medonho arrastão ocorrido na terça-feira (8) na região de São Paulo tristemente conhecida como cracolândia constitui um lembrete amargo da tragédia social que há mais de duas décadas se desenrola no coração da metrópole.

Embora se reconheça a complexidade do problema, nada justifica que seguidos governos municipais e estaduais tenham sido incapazes de conceber um plano integrado e abrangente para enfrentar tamanho descalabro.

No mais das vezes, enxuga-se gelo. Reprimem-se os usuários maltrapilhos, e eles se espalham pelo centro da cidade, voltando algum tempo depois. Prendem-se traficantes, aparecem outros.

Recorde-se, por exemplo, a espetaculosa ação levada a cabo em 2017, quando o então prefeito João Doria (PSDB) apressou-se em anunciar o fim da cracolândia apenas para ser desmentido pela realidade em questão de semanas.

Não que a polícia deva abster-se de uma atuação firme na região. Mas, em vez de ações brutais de repressão, que antes produzem mais violência que resultados, deve-se priorizar ações de prevenção e inteligência, além de extirpar os eventuais casos de suborno de agentes públicos para que tolerem delitos.

A cracolândia, contudo, transcende a questão da segurança pública. A ação policial é inócua sem o complemento de estratégias de atendimento a uma população extremamente vulnerável.

Nos últimos anos, o pêndulo da atuação sanitária vem oscilando entre a redução de danos e a abstinência com internação.

Na primeira baseou-se o programa De Braços Abertos, implantado pelo petista Fernando Haddad (2013-2016). Seus princípios: diminuir o consumo de crack, dar moradia e trabalho aos usuários e atraí-los para tratamento voluntário.

No início da gestão Doria na prefeitura, o programa deu lugar ao Redenção, que privilegiou a abstinência como precondição da assistência social e médica. Já com Bruno Covas (PSDB), a redução de danos voltou a constar, ao menos no papel, no cardápio de terapias oferecidas pelo poder público.

Como demonstra a experiência internacional, aliar as duas abordagens de tratamento parece ser o caminho mais promissor, o qual deve necessariamente ser complementado com uma ação policial ao mesmo tempo efetiva contra o tráfico e respeitosa com os usuários.

editoriais@grupofolha.com.br

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