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Negação da maconha

Cartilha oficial desinforma ao contestar os benefícios medicinais da erva

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Funcionario manuseia cannabis na linha de produçãoo da Bazelet, empresa israelense de maconha medicinal - Lalo de Almeida/Folhapress

Distorcer a realidade, camuflando os fatos com o discurso ideológico, é parte do modus operandi do bolsonarismo. Embora se saiba que tal conduta conspurca praticamente todas as áreas da máquina federal, em poucas ela se apresenta de forma tão explícita como na questão das drogas.

Em 2019, o então ministro da Cidadania, Osmar Terra, censurou pesquisa da Fiocruz simplesmente por não confirmar a suposta epidemia de crack por ele alardeada —e mostrar que o problema maior nessa seara reside no álcool.

Partiu do mesmo ministério, agora sob Onyx Lorenzoni, em colaboração com a pasta da Mulher, comandada por Damares Alves, a mais recente investida obscurantista sobre o assunto.

Apresentada como técnica, a cartilha publicada pelos dois gabinetes sobre os riscos do uso da maconha consegue a proeza de tanto ignorar conhecimentos científicos como, em sentido oposto, fazer afirmações acerca da substância para as quais faltam evidências.

Desconsiderando a massa de estudos que, de forma mais e menos conclusiva, vêm medindo os benefícios da cânabis para pessoas com epilepsia, ansiedade, depressão, esclerose múltipla, demência, dor crônica e náuseas provocadas por quimioterapia, o documento desinformativo assevera que “não existe ‘maconha medicinal’”.

Os pacientes com esclerose múltipla contam, cabe lembrar, com um remédio à base de derivados da maconha licenciado pela Anvisa. Já para a epilepsia há evidências sólidas de eficácia, em estudos com robustez estatística.

Não que inexistam riscos associados ao consumo da erva —e o texto, de forma correta, menciona alguns, como ingestão acidental por crianças, efeitos no aprendizado de adolescentes e possibilidade de desenvolver dependência.

Entretanto o esforço em deturpar prevalece. A assertiva de que a violência e os homicídios cresceram nos locais em que a maconha foi legalizada, por exemplo, vem calcada não em artigos científicos, mas num texto de opinião.

Hoje a maconha para fins medicinais é legal em mais de 40 países ou territórios, além de 36 estados americanos, e a discussão sobre seus efeitos terapêuticos caminha em diversas partes do mundo.

No Brasil, todavia, o preconceito e o conservadorismo obtuso travam o debate científico e levam sofrimento desnecessário a pacientes de males diversos.

editoriais@grupofolha.com.br

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