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Algemir Brunetto

O impacto da Covid-19 na cura do câncer infantil

Pandemia tem imposto ajustes e ações para não comprometer continuidade do atendimento

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Algemir Brunetto

Médico oncologista, é superintendente do Instituto do Câncer Infantil

Desde a introdução da quimioterapia no tratamento do câncer infantil, há mais de 70 anos, as chances de cura da doença evoluíram de forma expressiva. Hoje, a possibilidade de vencer uma enfermidade que era invariavelmente fatal se aproxima de 80% quando os pacientes são tratados em centros especializados.

Essa evolução é resultado de inúmeros fatores, incluindo avanços médicos, maior conhecimento da natureza biológica da doença, novas tecnologias para o diagnóstico, descoberta de medicamentos mais eficazes e criação de centros especializados com expertise multiprofissional.

Apesar desses avanços, alguns tipos de câncer ainda são resistentes aos tratamentos disponíveis ou requerem terapias associadas a efeitos agudos e tardios indesejáveis. Nesta segunda-feira (15), Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil, vale lembrar que, no Brasil, o câncer infantil representa a primeira doença como causa de mortalidade abaixo de 19 anos de idade.

O atendimento a crianças e adolescentes com câncer foi bastante afetado com a pandemia pela Covid-19. Em virtude de atrasos no encaminhamento de casos suspeitos e cancelamentos de procedimentos para pacientes em tratamento, há estimativas de significativa piora da mortalidade por essa doença. Relatos recentes indicam também interrupção e mesmo cancelamentos de projetos de pesquisa básica e clínica —os quais são fundamentais para avanços futuros na cura da doença.

Além de brutal perda de vidas, a pandemia tem causado severo dano à economia mundial, com impacto negativo na vida de milhões de pessoas, incluindo necessidade de isolamento social, férias coletivas e perdas permanentes de empregos. Os sistemas de saúde também foram severamente afetados pelo deslocamento de recursos e profissionais para atender pacientes com Covid-19, que, somando às restrições impostas pelos cuidados sanitários, prejudicaram o atendimento eletivo de pacientes com outras doenças. A magnitude do aumento da mortalidade também por outras doenças será completamente conhecida apenas com o passar do tempo.

A pandemia tem imposto ajustes e ações para não comprometer excessivamente a continuidade do atendimento de pacientes com câncer infantil, tanto na qualidade do tratamento disponibilizado aos pacientes quanto no apoio às famílias que enfrentam uma realidade atual de excessiva sobrecarga financeira e social. O Instituto do Câncer Infantil (ICI), em Porto Alegre, também busca apoio governamental para a continuidade de programas de pesquisas científicas essenciais para identificar terapias mais eficazes para o futuro.

A grave crise na saúde causada especificamente pela Covid-19 aos pacientes, e indiretamente em às suas famílias e à sociedade como um todo, tende a provocar consequências devastadoras para as crianças com câncer. Para minimizar o impacto negativo nas chances de cura, torna-se fundamental uma união de esforços de profissionais de saúde, centros de tratamento e órgãos públicos responsáveis pelas políticas públicas de saúde.

Neste momento, a Frente Parlamentar de Combate ao Câncer Infantil aguarda com muita expectativa a aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto de lei que tem na sua essência a busca de definição de uma política pública específica para o câncer infantil, que permitirá uma regulação mais eficiente de casos com suspeita ou diagnóstico confirmado de câncer. Com a aprovação desta lei e a continuidade de mobilização da sociedade civil organizada e solidária, poderemos ser primeiro mundo no atendimento a crianças com câncer.

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