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O enigma de Wuhan

OMS desfaz crenças ao não encontrar sinal de que mercado chinês disseminou Covid

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Testagem para o coronavírus em Wuhan, na China - 15.mai.20/AFP

A mais luminosa perspectiva de emancipação aberta pela ciência está no confronto das hipóteses contra os fatos. Por meio desse teste desfazem-se lendas alimentadas por desavisados, como as relativas à origem chinesa da Covid-19.

Verdade que se detectou o foco original da pandemia na região de Wuhan, província de Hubei. Na segunda quinzena de novembro de 2019 surgiram os primeiros casos de uma pneumonia atípica grave na cidade, e as suspeitas recaíram sobre um mercado atacadista de frutos do mar frequentado por dezenas de doentes.

Algumas bancas vendiam animais terrestres vivos, de várias espécies, e não raro zoonoses virais começam pela manipulação deles. No entanto uma comissão da Organização Mundial da Saúde (OMS) enviada para investigar a origem do coronavírus Sars-CoV-2 concluiu não haver informação bastante a corroborar tal ligação.

Morcegos e pangolins chegaram a ser indiciados como fonte silvestre do novo coronavírus, pois abrigam variedades aparentadas com o Sars-CoV-2. A análise de dezenas de milhares de amostras animais, porém, não encontrou em Wuhan e noutras localidades nenhum infectado pelo vírus ou outro com suficiente proximidade genética.

Além disso, testes realizados com material humano revelaram vários casos de contaminação em pessoas que nada tinham a ver com o mercado e moravam longe dele. Não se comprova, ao menor por ora, a ideia de que a pandemia nasceu do consumo de animais exóticos.

Concluiu-se ainda ser extremamente improvável que o coronavírus tenha vazado de algum centro científico local —que dirá a teoria mirabolante de produção em laboratório com intenções malignas.

No Brasil, seguidores de Jair Bolsonaro e o próprio presidente repetiram à exaustão a expressão discriminatória “vírus chinês”. Pretendiam, com isso, disseminar seu anticomunismo pueril ao emprestar lastro à ficção conspiratória de que o Sars-CoV teria sido fabricado para derrubar a economia mundial.

Depois, alvejaram a vacina da empresa Sinovac e do Instituto Butantan, que chamavam de “vachina do Doria”. Terminaram obrigados a comprar o imunizante do governo paulista, quando os fatos provaram que seu negacionismo dera com os burros n’água.

Nem é necessária pesquisa científica para reconhecer, na xenofobia, prova definitiva de falta de inteligência e habilidade diplomática.

editoriais@grupofolha.com.br

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