Seria difícil imaginar um aniversário mais melancólico para o Mercosul, que acaba de completar 30 anos. Paralisia e troca de acusações dominaram as discussões das últimas semanas sobre os próximos passos do bloco sul-americano.
No encontro de cúpula, realizado no final de março, Luis Lacalle Pou, presidente uruguaio, disse que o Mercosul não pode ser um lastro para seus membros e sugeriu conferir maior liberdade para os países firmarem acordos comerciais separadamente, com espaço para adesões voluntárias dos outros.
Alberto Fernández, da Argentina, sugeriu aos que sentem o peso que desçam do barco e não abriu mão da negociação em bloco. As farpas continuaram na segunda rodada de discussões, em abril, desta vez entre o ministro brasileiro da Economia, Paulo Guedes, e seu congênere argentino.
O bloco está rachado em dois. Alinhado ao Uruguai, o Brasil quer mais flexibilidade e também uma redução de 20% na tarifa externa comum para importados. Argentina e Paraguai resistem a ambas as pautas, embora aceitem desoneração mais modesta e com exceções.
Enquanto isso, o processo de ratificação do acordo de livre-comércio com a União Europeia, o mais ambicioso jamais celebrado pelo bloco, corre riscos, sobretudo em razão de dúvidas e exigências ainda pouco claras do lado europeu na área ambiental.
A paralisia não é nova e reflete os graves problemas econômicos e as orientações de governo distintas entre os países-membros, que dificultam uma agenda comum. É difícil estabelecer um mecanismo funcional que na prática não signifique o fim da tarifa comum (TEC) que baliza a união aduaneira.
O Mercosul se tornou anacrônico e se desviou do objetivo inicial. Em vez de servir de plataforma mais ampla, com poder de barganha, para a integração produtiva com o resto do mundo, converteu-se em espaço protecionista e sucumbiu aos lobbies empresariais e à própria fragilidade econômica dos sócios nas últimas décadas.
Os impasses atuais são reflexo direto dessas inconsistências. Mesmo assim, é preciso avançar. As demandas estão postas e talvez viabilizem um sinal claro de abertura por um acordo célere para redução de tarifas, aproximando-as das praticadas no restante do mundo.
Não se deve, além disso, perder a chance aberta pelo acordo com os europeus, o que seria um marco para dinamizar o Mercosul.
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