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Mulheres para trás

Baixa participação feminina na política derruba Brasil em ranking de igualdade

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A deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP) - Marlene Bergamo/Folhapress

O Brasil perdeu 26 posições no ranking de igualdade de gênero divulgado pelo Fórum Econômico Mundial. De 2005 a 2020, foi do 67º para o 93º lugar entre 156 nações. O descompromisso com as cidadãs mulheres aparece com maior gravidade num amargo 108º lugar em participação política feminina, 22 pontos abaixo da posição anterior.

Na composição desse resultado, entram o 122º lugar no numero de mulheres eleitas para o Congresso Nacional e o 120º lugar quanto à sua participação em ministérios.

Embora vergonhosas, as posições não chegam a surpreender num país assentado sobre uma estrutura política fisiológica e machista, em diferentes níveis e Poderes.

Veja-se o resultado recente da aplicação de cotas para candidatas mulheres, que acabaram muitas vezes preenchidas com laranjas.

É preciso um esforço coletivo para que o país comece a atender melhor à demanda por equidade, frequentemente tratada de maneira pejorativa como “identitária”, como se a homogeneidade masculina e branca de ambientes de poder não fosse, ela sim, uma reafirmação de identidade.

Os governos que sucederam o de Dilma Rousseff, primeira mulher a presidir o Brasil e responsável por alguma melhora no índice de gênero, pouco ou nada se esforçaram para acrescentar imagens femininas a sua composição.

Gabinetes de escassa diversidade, não apenas de gênero, dominaram o último terço do período avaliado no levantamento.

A desastrosa condução econômica do governo Dilma, aliás, rendeu-lhe inúmeros ataques misóginos, inaceitáveis em quaisquer circunstâncias e apresentações —das veladas às mais vulgares.

Em São Paulo, na quinta (1º), a Assembleia Legislativa determinou suspensão de seis meses ao deputado Fernando Cury (Cidadania), filmado ao apalpar a colega Isa Penna (PSOL).

Sem votos para a desejável cassação, a Alesp ao menos aumentou a punição ante a proposta do Conselho de Ética, que garantia ao apalpador 119 dias de suspensão com salário e manutenção do gabinete.

Já é alguma coisa num país governado por um homem que se referiu à filha como fruto de “uma fraquejada” e que é réu numa ação penal, suspensa pelo Supremo Tribunal Federal até o final do mandato, por apologia do crime de estupro.

O aspecto mais desolador do índice de gênero do Fórum Econômico Mundial, contudo, é que ele ainda não reflete por completo o impacto da pandemia, ainda maior em mulheres negras, mães solo e moradoras das periferias.

editoriais@grupofolha.com.br

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