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Abuso armado

Casos de truculência policial ganham nova gravidade sob o governo Bolsonaro

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Policiais durante manifestação contra Jair Bolsonaro em Recife - Agência JCMazella Divulgação

À primeira vista, episódios de abuso policial podem parecer não mais que novas e deploráveis manifestações de práticas arraigadas na sociedade brasileira —que vão da abordagem truculenta de cidadãos, em geral pobres e pretos, ao excesso de violência, não raro letal, no cumprimento de deveres do ofício.

Os últimos dias foram pródigos em casos do gênero. No mais dramático deles, dois homens perderam a visão de um dos olhos ao serem atingidos, no sábado (29), por balas de borracha disparadas pela Polícia Militar durante protesto contra Jair Bolsonaro em Recife. As vítimas não participavam do ato.

No mesmo dia, um PM agrediu com um soco na boca um jovem negro em Caieiras (SP), durante uma abordagem; um dia antes, em Cidade Ocidental (GO), um jovem negro que gravava em vídeo suas manobras ciclísticas teve uma arma apontada para si e foi algemado por um policial militar.

Na segunda-feira (31), a PM goiana invocou a Lei de de Segurança Nacional, de 1983, e deteve em Trindade um professor que tinha em seu carro uma faixa que chamava o presidente de genocida.

Como já se percebe a esta altura, a natureza do governo Bolsonaro confere a esses tristes episódios uma nova gravidade —ainda que nem todos eles apresentem uma conexão política óbvia.

O atual chefe de Estado, afinal, baseou sua longa carreira parlamentar na defesa de interesses corporativos de militares e agentes de segurança pública —e também na apologia da brutalidade policial.

No Planalto, tal militância resulta em má política pública: desde reajustes salariais descabidos e cargos na administração aos fardados até tentativas de garantir na lei a impunidade de policiais que matam em serviço. Mas esse nem é o desdobramento mais preocupante.

Bolsonaro estimula, sobretudo, a politização nos quartéis e nas delegacias. Assim fez quando sem maiores sutilezas quis emprestar legitimidade ao criminoso motim de PMs cearenses no ano passado, por ele chamado de greve, ou quando levou o general da ativa Eduardo Pazuello a um palanque.

A profissionais que recebem armas do Estado não é dado o direito a movimentos paredistas e a manifestações políticas, pelos óbvios riscos à segurança dos cidadãos e ao convívio democrático. Ensaios do tipo, mesmo os incipientes, precisam ser rechaçados por superiores hierárquicos, autoridades, líderes políticos e sociedade.

Do presidente da República, infelizmente, não se pode esperar nada além de arruaça. Na ausência de compostura do mandatário maior, cabe às forças responsáveis de defesa e segurança pública zelar pela disciplina e pelo respeito à sua missão constitucional.

editoriais@grupofolha.com.br

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