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Tardiamente, Biden puxa cordão dos ricos para distribuir vacinas a países pobres

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Líderes na reunião do G7 - Patrick Semansky/Reuters

Desde que a velocidade sem precedentes da ciência trouxe vacinas efetivas contra a Covid-19 em menos de um ano, uma geopolítica particular foi estabelecida em torno da oferta dos imunizantes.

China e Rússia fizeram lançamentos de fármacos de olho no mercado externo, não só por lucro, mas também para estender sua influência política sem o uso da força das armas ou da coerção econômica. É o chamado “soft power”.

Com efeito, chineses são força dominante no mercado vacinal na América Latina, quintal político dos seus rivais em Washington, e fizeram caridade em locais desassistidos da Ásia e da África.

Já o Kremlin viu sua Sputnik V ser aprovada para uso em quase 70 nações, ainda que não tenha conseguido entrar de vez na Europa, seu objetivo político maior.

A Índia, outro grande ator nesse campo, acabou deixando as pretensões externas de lado devido à gravidade da pandemia em seu território. Os chineses também tiveram de olhar para dentro, mas mantiveram seus compromissos externos, e é certo que Nova Déli voltará com força ao palco internacional.

Já os países mais ricos optaram por se proteger primeiro, no que foram alvo de várias críticas.

Nas contas da Organização Mundial da Saúde, um quarto dos 2,3 bilhões de doses de vacinas já aplicadas ocorreu em países do G7, clube das economias mais desenvolvidas que promoveu reunião de cúpula na sexta (11). Essas nações mal somam 10% da população mundial.

A União Europeia fez jus à sua fama de paraíso da burocracia e, tendo fármaco e dinheiro à mão, aplica campanha errática e lenta.

Já os Estados Unidos aceleraram de forma notável o processo, embora haja queda na taxa de imunização, ameaçando a meta do presidente Joe Biden de ver 70% dos adultos vacinados até julho.

De todo modo, coube ao democrata a iniciativa tardia de incentivar seus colegas do G7 a distribuir vacinas para os países mais pobres. Biden prometeu 500 milhões de doses em um ano, meta dobrada na reunião de sexta.

É pouco. Entidades como a ONG britânica Oxfam estimam em 11 bilhões o número de inoculações necessárias para controlar a pandemia. Mas é um começo, e Biden pode ter ultrapassado os seus rivais no jogo da vacina —que, como qualquer governante talvez exceto Jair Bolsonaro sabe, é o único capaz de encerrar o pesadelo presente num mundo interconectado.

editoriais@grupofolha.com.br

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