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Governo acossado

Apuração sobre vacina aperta cerco a Bolsonaro e tensiona relação com centrão

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O servidor Luis Ricardo e seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), na CPI da Covid - Adriano Machado/Reuters

As gravíssimas suspeitas em torno da compra da vacina indiana Covaxin pelo governo Jair Bolsonaro criaram riscos para o presidente em múltiplas frentes.

Até a semana passada, a CPI da Covid já havia acumulado evidências da negligência do Ministério da Saúde na oferta de imunizantes à população e dos custos impostos por sua gestão ruinosa, responsável por milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.

Com as revelações dos últimos dias, surgiram indícios de que o mesmo governo que prolongou as negociações com os principais laboratórios por meses apressou as tratativas com representantes da Covaxin, em circunstâncias que permanecem nebulosas.

As denúncias não partiram da oposição, mas de dois integrantes das fileiras bolsonaristas, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão Luis Ricardo, funcionário que diz ter resistido às pressões do ministério e levado suas desconfianças ao presidente em março.

Bolsonaro não só recebeu os irmãos no Palácio do Alvorada como prometeu que mandaria abrir investigações, o que jamais fez.

Ao depor à CPI na sexta (25), Luis Miranda implicou o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), prócer do centrão, como interessado em favorecer a Covaxin —e apontou o próprio Bolsonaro como a fonte da informação.

Caberá à CPI, à polícia e ao Ministério Público esclarecer o que houve, mas o prejuízo político imediato parece incontornável para o presidente, que gosta de se vangloriar por presidir um governo livre de escândalos e agora se vê assombrado pelas vacinas indianas.

O desconforto causado pela situação tornou-se evidente em suas últimas aparições públicas, quando reagiu aos questionamentos sobre a Covaxin insultando jornalistas e desafiando a realidade com versões fantasiosas para o episódio.

As revelações da semana tendem a insuflar os organizadores de protestos contra o presidente, que levaram milhares às ruas nas últimas semanas e preparam novas manifestações para o dia 24 de julho.

Na próxima quarta (30), partidos de oposição prometem apresentar à Câmara dos Deputados um pedido de impeachment apontando duas dezenas de crimes praticados por Bolsonaro, que já é alvo de mais de uma centena de pedidos de afastamento.

A presença de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Câmara e o apoio do centrão têm garantido ao mandatário proteção contra as iniciativas de seus opositores, que dependem de autorização do presidente da Casa para avançar.

A citação a Ricardo Barros injetará tensão na relação de Bolsonaro com o bloco parlamentar, que ele abjurou na campanha eleitoral e abraçou para sobreviver no cargo —e o aprofundamento da crise tende a encarecer ainda mais os custos da aliança de ocasião.

editoriais@grupofolha.com.br

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