Descrição de chapéu
Capitão Derrite

O projeto de lei que proíbe a linguagem neutra deve ser aprovado no Congresso? SIM

Prejuízos podem ser irreparáveis, pois mudar a língua é alterar a cultura do país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Capitão Derrite

Deputado federal (PP-SP), é oficial da Rota e do Corpo de Bombeiros e pós-graduado em direito constitucional

“Boa tarde a todos e a todas.” Uma palestra que comece com tal redundância já deveria perder qualquer audiência logo no início. Quem dirá a que inclui o “todes”, aquela criação de uma minoria barulhenta que ameaça a nossa língua portuguesa.

Não obstante das notícias do avanço do movimento da linguagem não binária pelo mundo, resolvi aprofundar-me em uma área que sempre gostei e da qual sou grande apreciador: a da linguagem. Em meus estudos, descobri algo que até os que se dizem mais embasados para defender as palavras terminadas em sílabas impronunciáveis preferem ignorar.

O português é oriundo do latim, que possuía o feminino, o masculino e o neutro. Nas adaptações para a nossa língua, o que antes existia como neutro se tornou o masculino. Por isso, “todos” já se refere a homens, mulheres e demais identificações de gênero.

O deputado federal Capitão Derrite (PP-SP)
O deputado federal Capitão Derrite (PP-SP) - Cleia Viana/Câmara dos Deputados

A ideologia não pode estar acima da norma culta, sob risco de prejuízos irreparáveis, uma vez que alterar a língua é alterar a cultura de um país.

O dialeto neutro foi criado por pessoas que se dizem não binárias, que, segundo elas, são pessoas que não se identificam nem com o gênero feminino nem com o masculino, e é defendido como uma forma de inclusão. Seria mesmo essa uma atitude de inclusão? Convido-os a analisar casos de pessoas que sofreriam uma exclusão desnecessária perante essa alteração linguística.

A dislexia é um distúrbio de aprendizagem caracterizado pela dificuldade de leitura. Estima-se que no Brasil, em média, 15 milhões de crianças e jovens tenham dislexia. Seria prudente com eles acrescentar uma alteração na língua portuguesa tão difícil de ser compreendida, para a qual ainda não existe sequer padrão para aprendizagem, com palavras modificadas a bel-prazer de seus criadores?

Outro público que sofreria danos na comunicação seria o composto por surdos e mudos, que utilizam-se da leitura labial para melhor interpretação, já que a Libras não é uma realidade difundida em nosso país por enquanto. Seria justo com eles acrescentar sílabas que tampouco conseguimos pronunciar com sons, quem dirá com movimentos labiais?

Convido defensores dessa linguagem não binária a fazerem essa reflexão. O projeto de lei 5248/20 [apensado ao PL 5198/2020, de Junio Amaral (PSL-MG)], de minha autoria, proíbe o uso da linguagem neutra na grade curricular e no material didático de instituições de ensino públicas ou privadas para ensino da língua portuguesa no ensino básico e superior.

A proposta inclui a vedação em documentos oficiais dos entes federados, em editais de concursos públicos, assim como em ações culturais, esportivas, sociais ou publicitárias que percebam verba pública de qualquer natureza. Não quero com essa proposta segregar nenhum grupo de pessoas, visto que muitos que se definem como não binários compartilham de minha análise sobre a linguagem neutra.

Meu intuito é determinar que o aprendizado da língua portuguesa seja feito de acordo com a norma culta, com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) e com a grafia fixada no tratado internacional vinculativo do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa.

Não concordo com a tentativa forçada de modificação da língua portuguesa, sob a falsa cortina de fumaça da “democratização da língua”.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.