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David Uip e Fernando Luiz Affonso Fonseca

A pandemia no contexto dos centros universitários

Sequenciamento genômico para detectar variantes balizará políticas públicas

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David Uip

Médico infectologista, é membro do Comitê Científico de Combate à Covid-19 de São Paulo e reitor do Centro Universitário da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC); foi secretário estadual da Saúde (set.13 a abr.18, gestões Geraldo Alckmin e Márcio França)

Fernando Luiz Affonso Fonseca

Farmacêutico-bioquímico, é vice-reitor da FMABC

A Covid-19 mudou a rotina do planeta, trouxe pânico, números espantosos de mortes e incertezas sobre como o mundo será daqui em diante. Permanecerá por muito tempo na lembrança coletiva como o pior desastre sanitário do último século.

Se este é o cenário sombrio observado desde o início de 2020, o lado positivo é que a comunidade científica reagiu de maneira ágil, precisa e assertiva. As pesquisas ganharam velocidade incrível, razão pela qual as vacinas já são uma realidade, mesmo que ainda seja necessário manter as medidas de higiene e o uso de máscaras para evitar a contaminação e a disseminação do novo coronavírus.

Fato é que a Covid-19, muito provavelmente, veio para ficar. Assim, todos teremos de lidar com mais uma doença infecciosa em nosso cotidiano, com campanhas anuais de vacinação em massa. Com o avanço da imunização, a tendência é que, de pandemia, a enfermidade seja reclassificada futuramente como endemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O vírus seguirá circulando, mas não com a mesma força atual e com taxas de hospitalizações e óbitos bem mais baixas.

É interessante observar o contexto da pandemia nos centros de pesquisa e ensino, e a contribuição inequívoca que instituições como Fiocruz, Butantan, USP, Unifesp, Unicamp e UnB, dentre outras, vem dando para o enfrentamento da doença.

O Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) tem prestado relevantes serviços para o combate à Covid-19 na região do ABC paulista, onde vivem cerca de 2,8 milhões de pessoas.

Desde meados de março de 2020, o laboratório de análises clínicas da FMABC vem realizando testes do ​Sars-CoV-2 para monitorar a circulação do vírus na região, sendo referência, ainda, para todo o distrito de São Mateus, no extremo leste da cidade de São Paulo.

Em abril, pico da pandemia no país, chegaram a ser realizadas 2.400 análises diárias, com até 60% de casos positivos. Com a ampliação dos vacinados, esse número caiu para 600 processamentos por dia e 11%, em média, de positividade.

Neste segundo semestre, a FMABC dá mais um salto e passa a oferecer o sequenciamento genômico para a detecção de variantes do novo coronavírus, algo fundamental para balizar as políticas públicas de enfrentamento ao Sars-CoV-2.

A pesquisa científica e a assistência gratuita aos doentes também estão no escopo das atividades essenciais realizadas pelo centro. Desde o início da vacinação, a FMABC vem realizando o acompanhamento da resposta imune contra o vírus de todas os profissionais de saúde e estudantes imunizados.

Uma pesquisa realizada pelo centro apontou que a vacinação de 1.128 trabalhadores (pouco menos de 50% do público total do campus) com a Coronavac ou a Astrazeneca reduziu em 78,3% o número de casos positivos entre os que frequentam o local. Também houve diminuição de 41% na demanda pelos testes de RT-PCR oferecidos no ambulatório.

Esses resultados demonstraram que, mesmo vacinando uma população com grande exposição ao risco de contaminação, houve expressiva redução da positividade entre os testados, além de ser possível comprovar efetividade dos imunizantes comparável aos dados dos estudos de vacinação realizados nas cidades paulistas de Serrana e Botucatu.

Também partiu do centro universitário o estudo que comprovou a segurança do aleitamento materno, não havendo qualquer evidência de transmissão do Sars-CoV-2 por meio da amamentação.

No início deste ano, a FMABC implantou um ambulatório para pacientes pós-Covid, com o objetivo de verificar e tratar as sequelas provocadas pela doença. Foram definidos 15 biomarcadores para avaliar possíveis alterações clínicas nas pessoas que foram infectadas pelo vírus e se recuperaram.

São inúmeros ainda os desafios que nos aguardam até que a pandemia seja, de fato, controlada.
A pesquisa e o ensino científico promovidos pelos centros universitários devem seguir alertas para proporcionar ferramentas altamente eficazes, visando conter a disseminação do vírus, minimizar sofrimentos e salvar vidas.

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