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Brasil, 199

Em quadra pouco iluminada da história nacional, elite precisa reagir com vigor

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Apoiador de Jair Bolsonaro em frente ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

O Brasil completa nesta terça (7) uma trajetória de 199 anos como país independente. Nesses quase dois séculos, uma colônia agrícola escravocrata transformou-se em país de sociedade complexa e economia diversificada, sem que isso fosse suficiente para sanar suas imensas desigualdades e injustiças.

É pouco iluminado, porém, o horizonte próximo ao bicentenário.

Perdido em um devaneio autoritário, o Brasil tem hoje um governo que fracassa em prover a melhoria das condições de vida para 213 milhões de habitantes. Revive fantasmas que só fazem promover insegurança econômica e medo em toda uma geração que aprendeu a grandeza da democracia, reconquistada com esforço.

Seria despejar demasiada expectativa na suposta liderança em Brasília pedir que se notasse o encolhimento da importância relativa do país, num mundo em que o centro do poder mais e mais se desloca para a Ásia. Nem mesmo o papel de locomotiva regional cabe com nitidez no Brasil atual.

Para uma nota mais positiva, convém evitar o fatalismo. O país não está fadado ao sucesso, tampouco a perpetuar essa má quadra.

Possui capital humano qualificado para superar a tormenta. Congrega dimensões que lhe dão lugar de destaque no planeta, seja pelo porte econômico (o oitavo maior Produto Interno Bruto pelo critério de paridade de poder de compra), pelo físico (a quinta maior área) ou pelo populacional (o sexto maior contingente, ainda que esse fator seja declinante, dado que o país caminha para ficar fora do grupo dos dez mais habitados).

As aspirações de qualquer conjunto de pessoas razoáveis passam muito longe do choque contracivilizacional ora vivido no Brasil. Este em algum momento cessará. Infelizmente, os traumas dele decorrentes devem se fazer notar por mais tempo, e sua cura não ocorrerá apenas pelo passar dos anos.

Nessa reconstrução, existe um papel do qual a elite não poderá fugir. O topo da íngreme pirâmide social brasileira apenas recentemente começa a dar sinais, ainda desconexos, de que não está disposto a aceitar os descalabros em curso. Será necessário fazê-lo com muito mais vigor.

Desse estamento espera-se ainda compromisso bem mais firme com o avanço educacional e com a preservação ambiental.

Também da elite política agrupada nas principais instituições deseja-se mais. Seu trabalho não é apenas manter sólidos os pilares da democracia. Deveria ser mais ativa no avanço do arcabouço legal e na diminuição de incertezas jurídicas que atrasam o país.

Decerto não é por descrença dos brasileiros que o país chegou a esse ponto. Como detectou pesquisa do Datafolha, 90% deles acreditam que o país é viável, e 70% dizem sentir orgulho de sua pátria. É preciso dar materialidade a esse sentimento, e efemérides são momentos propícios à reflexão. Que o aniversário desta construção chamada Brasil seja útil nesse sentido.

editoriais@grupofolha.com.br

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