As últimas semanas têm sido atribuladas no Reino Unido. Enquanto enfrenta uma nova e avassaladora onda de Covid-19, o país acompanha, em suspense, o desenrolar de outra crise —intimamente ligada à pandemia, mas de repercussão política— que sacode o governo e ameaça o cargo do primeiro-ministro, Boris Johnson.
O motivo é a revelação de uma série de festas realizadas no interior da residência oficial do premiê durante as restrições provocadas pela emergência sanitária. A mais rumorosa delas ocorreu em maio de 2020 e contou com a presença do próprio Johnson.
Estima-se que o número 10 da Downing Street tenha abrigado algo como uma dezena de encontros durante a pandemia —um deles na véspera do funeral do príncipe Philip, ex-marido da rainha Elizabeth 2º, que permaneceu solitária durante as exéquias devido às regras de distanciamento.
Embora a pândega tenha ocorrido em diferentes momentos, em maio de 2020 o país vivia, talvez, seu pior momento na crise sanitária, com centenas de mortos por dia e um severo lockdown. Quase todo o comércio estava fechado e os encontros eram limitados a duas pessoas, em locais abertos e a dois metros de distância.
Com o escândalo ganhando proporções cada vez maiores, o premiê viu-se obrigado a dar explicações ao Parlamento. Desculpou-se por ter participado da festa de maio, mas alegou que imaginava tratar-se de um encontro de trabalho.
Não bastasse a justificativa inverossímil, soube-se depois que um auxiliar de Johnson pedira aos convidados que levassem bebidas ao evento —fazendo com que o primeiro-ministro passasse também a ser acusado de mentir a seus pares.
A situação do premiê é sem dúvida periclitante. Membros do próprio Partido Conservador já defendem sua saída do cargo e uma investigação interna foi aberta.
Mas mesmo que o resultado lhe seja favorável, Johnson dificilmente se livrará do enorme peso simbólico de ter violado a quarentena num momento sombrio da pandemia, transmitindo ao público a sensação, terrível para a credibilidade de um líder, de que alguns estão imunes às regras que deveriam valer para todos.
Pode não ser o fim da linha para ele, mas as esperanças de que sua acachapante vitória eleitoral em 2019 representaria o fim da crise de governabilidade nascida no referendo do brexit caíram por terra.
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