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Cheiro de mofo

Sem nada a apresentar como legado que não seja desastroso, Bolsonaro ensaia volta às agressões vis

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Jair Bolsonaro, que está em seu último ano de mandato - Mateus Bonomi/AGIF

​De tão repetidas e mofadas que se tornaram as diatribes contra seus adversários, é com enfado que se encara a retomada do expediente pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em seu derradeiro ano de mandato.

O governante ensaia retornar ao radicalismo que mostrou sua face monstruosa —e sua absoluta impotência— nas últimas manifestações de 7 de Setembro. Insolências contra ministros do Supremo Tribunal Federal e insultos contra políticos adversários compõem o quadro de um Napoleão, daqueles de hospício, que perdeu os dentes.

O presidente vocifera porque reincidir nos esperneios autoritários é o que lhe restou após realizar a proeza de bater todos os recordes de incompetência e ignorância entre chefes de Estado na história da chamada Nova República.

A gestão Bolsonaro não deixa legado que permita ao incumbente apresentar-se como favorito à reeleição, num contraste vertical com os três outros mandatários que pleitearam o segundo mandato.

As condições de vida da maioria da população estão se deteriorando pela carestia e pela falta de empregos, para os quais a desídia e a estultice da administração federal contribuíram diretamente. O Brasil, a se concretizarem as expectativas sobre a economia, será um dos poucos países a registrarem queda na renda per capita neste ano.

A truculência, ainda mais quando a sua essência bravateira já é de todos conhecida, não vai restituir o que a inépcia presidencial destruiu. Não vai apagar a opção pelo obscurantismo e pela sabotagem no combate a uma pandemia que está para completar dois anos.

Ainda agora Jair Bolsonaro parece fazer o que pode para embotar a vacinação das crianças, o único grupo populacional sem proteção de imunizantes contra o novo coronavírus, enquanto o patógeno evolui para a terceira e mais acelerada onda de infecções no país.

Meteu-se o presidente numa enrascada com o funcionalismo ao prometer reajuste salarial, de resto inadmissível dada a gravíssima restrição orçamentária, apenas a categorias policiais. Não dá a mínima para a saúde e o emprego da imensa maioria da população, mas gasta suas energias, quando não está de férias na praia, como dublê de lobista de corporações armadas.

Não se conhecem meios de uma tal "plataforma" angariar maiorias de simpatizantes para assegurar a reeleição de Bolsonaro em outubro, quanto menos num país desigual, em que a massa de eleitores que decide de fato o escrutínio debate-se pelo pão de cada dia e duela contra o empobrecimento.

Inviável pelos seus feitos, ou não feitos, Jair Bolsonaro tenta retomar as agressões vis como se isso pudesse devolver-lhe alguma esperança de continuidade. Não pode.

editoriais@grupofolha.com.br

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