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Panorama indigno

Censo da população de rua explicita em dados chocantes o que era visível em SP

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Morador de rua em São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

Aos 468 anos de São Paulo, completados nesta terça-feira (25), os paulistanos podem atestar em números o que já era possível notar a olhos vistos: o avanço dramático do número de moradores de rua em meio à pandemia.

Encomendado pela gestão de Ricardo Nunes (MDB), o novo censo dessa população mostra que até dezembro de 2021 havia 31.884 sem-teto na cidade, ante 24.344 contados em 2019 —alta de 31%. Em relação a 2015, a quantidade dobrou.

De fato, a presença de moradores de rua, antes mais concentrada nas regiões centrais, espalhou-se pela metrópole mais rica do país, inclusive em bairros nobres. Por todo lado há gente em condições degradantes, debaixo de viadutos e marquises, perambulando ou dormindo ao relento, quando não instalada em pequenos acampamentos sob lonas e barracas de camping.

A explosão dessas moradias improvisadas e indignas evidencia um novo perfil captado pela pesquisa: o total de famílias que foram parar na rua quase dobrou em dois anos.

Dos 31.884 entrevistados que não têm um lar, 8.927 afirmaram viver com ao menos um familiar —em 2019, eram 4.868. Pais com filhos, mulheres, casais, idosos ou quem foi para a rua há pouco optam pelas barracas de camping com o intuito de manter alguma privacidade e a sensação de segurança.

Vítimas da inflação, da fome e do desemprego que assolam o país, parte dos novos sem-teto —assim como outros que vivem só ou padecem de dependências químicas— não encontra nos abrigos municipais uma alternativa a contento. Pelo menos 60% preferem as calçadas aos centros de acolhimento.

Abrigos provisórios, se não combinados com políticas de acesso a trabalho e habitação, revelam-se limitados. Não à toa, arrumar um emprego fixo (47,5%) e ter uma moradia permanente (23,1%) são os fatores apontados como fundamentais para sair dessa situação.

Se por óbvio alguma mudança implica retomada da atividade econômica, geração de empregos e redução da desigualdade, cabe à administração municipal, também, ampliar a sua rede de proteção. Um novo programa da prefeitura prevê construir casas de 18 m² para as famílias que vivem nas ruas, com ocupação limitada a 12 meses.

Trata-se de um começo diante de um desafio colossal, haja vista a dificuldade enfrentada pelos entrevistadores na abordagem dos sem-teto. Com razão, teme-se que os dados, já chocantes, estejam subestimados e prejudiquem as novas políticas —que, espera-se, sejam adotadas celeremente para atenuar essa vergonha paulistana.

editoriais@grupofolha.com.br

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