Usar máscara faz de mim uma alienígena

A pandemia não acabou; então, sigo de rosto coberto nos espaços fechados

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Sabine Righetti
Sabine Righetti

É jornalista, doutora em política científica e pesquisadora no Labjor-Unicamp. Fundou a Agência Bori

Quem, assim como eu, nunca saiu pelado na rua, mas já teve esse pesadelo, agora pode experimentar uma sensação real de estranhamento coletivo que deve se aproximar da nudez em espaço público. Basta colocar uma máscara.

Passei por isso há cerca de um mês em uma padaria pequena e lotada da capital fluminense logo após a queda das máscaras na cidade. Estavam todos de cara à mostra. Fui acompanhada com espanto do pãozinho ao queijo fatiado. Senti comentários por trás do balcão. Se você sair por aí com equipamentos mais poderosos, tipo PFF2, a reprovação será maior. Você evolui numa escala de sensação de nudez para percepção alienígena. Os olhares arregalados de muitos ao seu redor podem fazer com que você se sinta um verdadeiro ET.

As máscaras obrigatórias começaram a cair por decreto das prefeituras de todo o país em março. Primeiro foi abolido o uso mandatório em ambiente aberto e, depois, também nos espaços fechados (como as padarias). No início do mês, uma portaria do governo federal —que fracassou ao tentar oficializar por canetada o fim da pandemia no país— derrubou as máscaras no trabalho.

Desobrigar o uso de máscaras é diferente de contraindicá-las. Especialmente para quem tem mais de 60 anos ou tem condições clínicas de risco para complicações da Covid, elas seguem recomendadas. Agora, dizem especialistas, vai da consciência de cada um.

As máscaras deveriam ser um aprendizado de cuidado. Só que a gente não entendeu muito bem a necessidade de cobrir boca e nariz por quase dois anos. Nunca foi muito explicado, teve até campanha contra. Por que andaríamos de máscara agora que não é mais obrigatório?

Há casos de Covid subindo —de novo—​ em países que flexibilizaram medidas sanitárias. A pandemia não acabou. Então, sigo de rosto coberto nos espaços fechados e aglomerados. Melhor ser alienígena do que estar desprotegida.

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