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O que a Folha pensa inflação

Na incerteza, aperto

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Sede do Banco Central, em Brasília - Adriano Machado - 29.out.19/Reuters

Com a inflação em alta, sem sinais de reversão próxima, e riscos recessivos, os principais bancos centrais do mundo enfrentam o maior desafio das últimas décadas.

O cenário, já difícil, foi agravado pelo novo choque de preços de matérias-primas provocado pela guerra na Ucrânia e pela política de controle da Covid-19, que acentuam a escassez de suprimentos em várias cadeias produtivas.

A reação das autoridades monetárias tem sido elevar os juros, num contexto em que crescem os perigos para a atividade econômica. É uma mudança em relação ao padrão observado desde os anos 1990, quando a ameaça mais evidente era a deflação e havia espaço para estímulos monetários.

O dilema fica evidente no caso do Fed, o banco central americano. Na reunião deste mês, a instituição elevou sua taxa básica em 0,5 ponto percentual, para o intervalo de 0,75% a 1% ao ano.

Longe de significar um ajuste pontual, a sinalização é que será necessária uma sequência de aumentos, que poderão levar rapidamente o custo do dinheiro nos EUA para mais de 3% anuais.

Além da inflação, que lá chegou a 8,5% nos últimos 12 meses, o Fed se defronta com um possível aquecimento excessivo do mercado de trabalho, como legado dos estímulos adotados durante a pandemia.

Com alta de 5,6% dos salários em 12 meses, a ameaça é a de um processo inflacionário mais duradouro. Os mercados financeiros internacionais sentem o golpe, apresentando a maior retração desde a crise financeira de 2008.

Tal como no resto do mundo, a inflação tampouco dá sinais de arrefecimento no Brasil. Com os choques em combustíveis e alimentos, além da retomada dos serviços, as projeções para o IPCA, índice de referência do Banco Central, em 2022 continuam a subir —de 5% no início do ano para 7,9% hoje.

Daí a decisão do Banco Central de elevar a Selic em 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano. A instituição indica que o ciclo de aperto está avançado, mas ainda vê pressões pela frente. Não se descarta que a taxa básica se aproxime de 13,5% até meados do ano.

O arrocho não impediu uma ligeira melhora das expectativas para o crescimento econômico neste 2022, hoje em torno de 0,7%, em boa parte devido às vantagens do setor exportador —que tem proporcionado expressivos saldos comerciais. Ademais, o dólar em patamares menos elevados tende a facilitar o controle da inflação.

Permanece, porém, a incerteza em relação à política econômica deste e do próximo governo, uma vez que as manifestações de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), até agora, não são claras nem animadoras.

editoriais@grupofolha.com.br

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