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Juliana Crepaldi Coissi

Quando a pena por furtar comida é a de morte

Justiça baiana ainda não concluiu o julgamento de responsáveis pelo assassinato de dois jovens negros

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Juliana Coissi

Editora da Agência Folha, editoria responsável pelas reportagens nos estados. Formada em Jornalismo pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), foi repórter em Cotidiano, na sucursal de Ribeirão Preto, na Agência Folha e correspondente em Curitiba.

Lento. Desgastante. Doloroso. Os adjetivos usados pela mãe de Yan Barros da Silva, 19, definem a morosidade do sistema judiciário na punição dos responsáveis pela morte de dois jovens negros em Salvador, há um ano. A dupla foi entregue a um tribunal de criminosos, e os corpos traziam marcas de tiros e sinais de tortura. À Justiça coube justificar o hiato para concluir o julgamento pela carência de servidores e por falta de agenda.

Fotografia colorida mostra mãe de Yan sentada no chão, ao lado da cama que era do filho. Ela é uma mulher negra e está com os cabelos presos. Ela segura em uma das mãos um retrato de seu filho
Elaine Costa Silva, 38, em Salvador; ela teve o filho Yan Barros da Silva assassinado em 2021 após ser entregue a criminosos por funcionários da rede Atakarejo por suspeita de furto de carne - Rafaela Araújo/Folhapress

Os assassinatos reúnem, ainda, mais um elemento vexatório para as instituições e para o país. Foram motivados pelo furto de carne, produto que contribuiu para que a inflação da cesta básica superasse a média de preços no acumulado de 12 meses até fevereiro.

É na mesma rede judiciária que, nos estados, tem desaguado com mais força principalmente após a pandemia o volume de presos por furto de alimentos.

Não há estatística oficial, mas Defensorias Públicas de estados como Goiás e Pernambuco estimam que até dobraram os casos de detidos subtraindo itens como leite, biscoito e papel higiênico se comparado a 2020.

As situações que chegam a público estão ainda aquém da realidade, afirmam os defensores. Isso porque funcionários muitas vezes não acionam a polícia e fazem o próprio tribunal de condenação ou absolvição de quem suspeitam.

A ausência de estatísticas embasa a consequente lacuna de ação pública não apenas para envolvidos em crimes famélicos.

Também não há dados sobre outro grupo vulnerável. Nas capitais, as prefeituras não sabem quem são e quantas são as pessoas em situação de rua pela falta de censo atualizado.

Belo Horizonte é um dos municípios mais defasados, com último levantamento sobre sua população de rua feito em 2013. Em Fortaleza, o mapeamento mais recente é de 2015.

Sem dados, um problema não existe e não se exige atuação do poder público. Sem justiça, a dor de Elaine Costa Silva, 38, mãe de Yan, e a de tantas famílias vulneráveis permanecem sem amparo.

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