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Tragédia policial

Rio assiste a novo morticínio; políticas de segurança precisam de reorientação

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Policiais em volta de um corpo após operação na Vila Cruzeiro, no Rio - Mauro Pimentel/AFP

Em mais uma trágica operação policial deflagrada em comunidades do Rio de Janeiro, forças de segurança do estado, em colaboração com a Polícia Rodoviária Federal, se envolveram em um confronto armado de grandes proporções, que já resultou em ao menos 25 mortes.

Encontram-se entre as vítimas uma mulher, que foi alvejada em sua casa, e um menor de idade. Nenhum agente foi atingido.

A mortandade teve lugar na Vila Cruzeiro, na zona norte da capital fluminense, que se torna, até aqui, o palco da segunda incursão mais letal da história recente do Rio, atrás apenas do que se viu no Jacarezinho, onde há pouco mais de um ano outra ação catastrófica deixou um saldo de 28 óbitos.

A rotina de enfrentamentos armados entre policiais e quadrilhas que atuam no varejo do tráfico de drogas e em outras atividades ilícitas tem se revelado não apenas macabra, mas ineficaz. Os morticínios se repetem e nada muda.

Os moradores das comunidades continuam oprimidos por criminosos e pela violência policial, as facções se fortalecem e o comércio de entorpecentes permanece ativo.

Não é de hoje que especialistas da área da segurança clamam por mudanças nas políticas públicas, de maneira a privilegiar ações de inteligência e rever o proibicionismo cego da guerra às drogas.

De pouco adianta policiais e autoridades alegarem que o Estado enfrenta grupos fortemente armados se pouco fazem de efetivo para cercear o tráfico de armas —e, pior, incentivam a livre circulação dos artefatos, uma das obsessões de Jair Bolsonaro (PL).

Não espanta, aliás, que o mandatário, sempre a cultivar afinidades com as forças de segurança, tenha elogiado a operação funesta.

Note-se que o desastre da Vila Cruzeiro foi anunciado como uma ação de inteligência, com o objetivo de surpreender um comboio do crime —e estaria sendo planejada há quatro meses.

A preocupação da sociedade com a criminalidade é mais do que justificada, mas o debate público não pode ser degradado ao ponto de menosprezar afrontas em potencial a alicerces do Estado de Direito.

Um dos países mais violentos do mundo, o Brasil enfrenta há décadas graves problemas na área de segurança. Nem todos dependem, para serem mitigados, de reformulações estruturais.

Por vezes medidas simples, como a instalação de câmeras nos uniformes policiais, produzem resultados notáveis. Em São Paulo, tal procedimento tem reduzido a letalidade policial. No Rio, embora legislação nesse sentido tenha sido aprovada, o programa está atrasado. É negligência que custa vidas.

editoriais@grupofolha.com.br

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