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Gerd Sparovek

O encontro da arte e da ciência na sustentabilidade

Conexão com a natureza através do sentir está cada vez menos presente

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Gerd Sparovek

Diretor científico do Parque Campana (GeoLab, USP)

Saberes ancestrais condicionam a existência humana à natureza. Água, terra, fogo, plantas, animais e humanos fazendo parte de algo maior e integrado. Os deuses que governavam a natureza, suas forças e vontades, foram gradativamente substituídos por conhecimento. A natureza, antes sentida, admirada ou temida, com a ciência foi gradativamente compartimentada, controlada e explorada. O sentir a natureza na pele e de perto foi dando lugar ao entender a natureza de longe.

Buscar conexões com a natureza pela razão exige esforço. Sabemos cada vez mais sobre biodiversidade, ecologia ou biogeoquímica. As explicações se tornaram complexas e distantes da vida que, para a maioria, transcorre como se não houvesse natureza. Água sai da torneira, comida do supermercado, o deslocamento é de carro. A conexão com a natureza através do sentir está cada vez menos presente.

Os irmãos Fernando e Humberto Campana, dupla de designers brasileiros
Os irmãos Fernando e Humberto Campana, dupla de designers brasileiros - Vavá Ribeiro - 19.ago.19/Divulgação

A arte é o instrumento do sentir. A arte desperta sensações sem a necessidade da conexão com o saber. Biodiversidade pode ser expressa através de modelos e equações que poucos realmente conhecem. Mas biodiversidade também tem cheiro, cor, textura e forma que podem ser sentidos por qualquer pessoa. Não é preciso entender a natureza para senti-la. O sentir é uma forma de conexão mais pessoal e íntima do que o entender.

A combinação da arte com a ciência traz a oportunidade única de junção do sentir com o entender a natureza. No Parque Campana, localizado em Brotas (SP), a junção da arte com a ciência já está sendo criada. Na parte científica, um projeto de larga escala e longa duração para trazer respostas sobre a regeneração da mata atlântica e do cerrado.

As principais tecnologias de restauração ecológica e multifuncional disponíveis serão analisadas com detalhe e abrangência. Nas áreas experimentais irá ocorrer a progressiva conversão de pastagens em florestas naturais ​biodiversas e ecologicamente funcionais. Florestas produzindo água, abrigando flora e fauna nativas. Florestas que ajudam a despoluir o ambiente e a regular o clima. Este será um dos atrativos do Parque Campana —Brotas é a cidade natal dos irmãos Humberto e Fernando Campana, referências mundiais em design de mobiliário.

O outro atrativo convida o visitante a caminhadas por entre pavilhões com obras feitas a partir do olhar e do sentir a natureza dos irmãos Campana. Cada pavilhão abre espaço para a introspecção e a meditação.

Um lugar de cura e restauração pessoal. A partir de 2023, o visitante terá a experiência de sentir a natureza através da arte expressa nos pavilhões, mas também poderá ouvir os pássaros, ver a água limpa, os estágios de crescimento de uma floresta, sentir sua sombra. Sentir a biodiversidade e a regeneração do ambiente numa simples caminhada de 500 metros através das áreas em que as técnicas de regeneração serão testadas.

Além de sentir, por meio da arte e da contemplação das áreas em restauração, o visitante também poderá ver a ciência e o conhecimento sendo gerados num dos maiores experimentos controlados de longa duração sobre o tema, inaugurando uma das poucas atrações de turismo científico disponíveis no Brasil. Este é o desafio do Parque Campana: ser um ponto de encontro da arte com a ciência, tendo a sustentabilidade e a natureza como inspiração.

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