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O PIB de 2023

Economia não surpreende no 1º trimestre; cumpre evitar estagnação no próximo ano

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Mutirão do emprego no vale do Anhangabaú, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

O comentário mais comum sobre o desempenho da economia no primeiro trimestre notou que o resultado do Produto Interno Bruto foi melhor do que o esperado no início do ano, mas que é provável uma contração no segundo semestre. Ademais, as primeiras previsões para 2023 são de estagnação.

Entre a discreta melhora e as estimativas pouco animadoras se interpõe o efeito mais relevante da alta das taxas de juros, além do fim dos aumentos transitórios de renda e do processo de normalização da atividade do setor de serviços.

Foi apenas na passagem de 2021 para 2022 que os juros chegaram a um nível que deve ter efeitos de contenção da atividade econômica. O impacto do aperto monetário deve ser mais sentido a partir da segunda metade deste ano.

A recuperação expressiva do nível de emprego contribuiu para o bom resultado do consumo das famílias. Entretanto a média dos salários continua no pior patamar da década —em boa parte por causa da inflação, que permanecerá muito alta, além dos 10% ao ano, até o terceiro trimestre ao menos.

Também em meados do ano devem se exaurir os aumentos de renda derivados do saque parcial do FGTS e da antecipação do 13º pagamento de benefícios do INSS. O setor de serviços, que contribuiu de modo importante para o crescimento de 1% do PIB entre janeiro e março, deve perder ímpeto depois da recuperação propiciada pelo fim das restrições maiores impostas pela epidemia.

Aumentos salariais em estados e municípios, além de reduções de impostos, devem dar o alento restante e cadente para a economia neste segundo trimestre, que até aqui apresenta bons indicadores de atividade e confiança.

Antes mesmo dos ventos frios do próximo semestre, no entanto, nota-se que o investimento teve queda significativa já nos três meses iniciais. É improvável que o indicador possa se recuperar em ambiente de crédito mais caro, previsões baixistas de crescimento, incerteza eleitoral e expectativas nebulosas para a economia global.

O ainda bom desempenho do PIB mundial e a alta do preço das commodities contribuíram para o avanço brasileiro no início do ano. As exportações cresceram e as importações diminuíram —no caso, também um sinal de economia com demanda reduzida e dificuldades de importar, dada a crise internacional de abastecimento.

Em suma, a economia parecia recuperar o ritmo observado entre 2017 e 2019. A crise inflacionária tende a interromper a volta a essa normalidade menos que medíocre.

Talvez ainda seja possível evitar a estagnação de 2023. Em parte, essa hipótese depende do nível de sensatez dos candidatos e de quem vier a ser eleito em outubro. Um governo racional teria de dar início, ainda neste ano, a um programa reformista e de pacificação. Mais que o PIB deste 2022, essa é a discussão econômica crucial.

editoriais@grupofolha.com.br

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