O drama da reduzida taxa de ocupação de pessoas com deficiência (PcD) aflige indistintamente os países.
As barreiras à contratação desses profissionais não se restringem à inadequação para as ocupações disponíveis e à falta de qualificação. Há muitas outras associadas à cultura das empresas —e da própria sociedade—, que se refletem no pouco conhecimento dos setores de recursos humanos para seleção e compatibilização da vaga às habilidades funcionais dos indivíduos; a visão assistencialista e de incapacidade, que dificulta a devida valorização dos profissionais; e o pouco conhecimento sobre tecnologias assistivas e as possibilidades de adaptação e suporte ao ambiente de trabalho.
Diante de tantos empecilhos, muitos são desencorajados a desenvolver suas vocações e a buscar maior formação. No emprego com carteira, 18,9% das PcD têm ensino superior, ante 23,4% para os demais.
O difícil quadro econômico do país é sério agravante, pois crises econômicas geralmente impactam mais esse grupo. Enquanto em 2019 1,21% dos empregados com carteira eram PcD, agora são 1%. Considerando que 4,5% da população em idade ativa tem deficiência, conclui-se que o grupo está bastante sub-representado no mercado formal de trabalho .
Há, certamente, muito trabalho a ser feito para consolidar o avanço trazido pela Lei de Cotas, de 1991. Em tempos de princípios ESG no mundo de negócios, não podemos perder a chance de fazer a coisa certa e dar oportunidade de trabalho e desenvolvimento profissional para essas pessoas. Pesquisas internacionais sobre o emprego de PcD apontam efeitos positivos sobre a lucratividade das empresas em razão de fatores como melhora de imagem institucional da companhia, maior lealdade dos funcionários e fidelidade de clientes e fornecedores.
O governo do estado de São Paulo lançou em setembro de 2019 o programa Meu Emprego Inclusivo, que tem como objetivo promover a inclusão e o desenvolvimento profissional desses indivíduos, permitindo assim maior autonomia financeira.
Com base em recomendações mundiais, o programa integra ações junto a indivíduos e empresas, incluindo busca ativa de candidatos; entrevistas de habilidades, competências e interesses profissionais; qualificação profissional; orientação para os processos seletivos; suporte às empresas, de modo a identificar oportunidades e também dirimir barreiras atitudinais e de acessibilidade no ambiente de trabalho; e suporte pós-inclusão para a permanência dos indivíduos no trabalho.
Sua principal estratégia foi a criação de Polos de Empregabilidade Inclusiva (PEIs) espalhados pelo estado, sendo 17 em operação. Há importante trabalho na formação técnica e qualificação customizada dessas pessoas, em diferentes modelos de política pública, como o Via Rápida (cursos de curta duração) e o Minha Chance, que permite o trabalho de PcD nas empresas, associado a cursos de qualificação.
O programa conta atualmente com mais de 5.900 pessoas entrevistadas. Dos quase 2.500 candidatos encaminhados neste ano, menos de 400 foram incluídos. Cifra modesta, considerando que o estado tem 1,7 milhão de PcD em idade produtiva (16 a 59 anos) e apenas 150 mil com emprego com carteira.
Nossa missão é aprimorar as políticas públicas para melhorar esses números. Para tanto, buscamos reforçar as parcerias com entidades do terceiro setor especializadas na área para potencializar a busca ativa de candidatos e capacitar e apoiar os profissionais de RH para o atendimento e inclusão das PcD.
Um grande desafio é estreitar o laço com as empresas —atualmente são pouco mais de 300 parceiras—, não apenas para abrirem oportunidades a esses profissionais, mas para que os cursos de qualificação técnica sejam adequados às suas demandas.
Esperamos contar com a colaboração de entidades empresariais, bem como órgãos da administração pública e de toda a sociedade.
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