Faz tempo estamos adiando essa conversa. Não tenho paciência para discutir relações, e você não tem tempo para isso. Mas precisamos encarar nossas diferenças, conseguir viver em harmonia, sem contratempos, já que vamos conviver pelo resto da vida —pelo menos da minha.
De quando em quando nossa relação fica conturbada. Às vezes quero você mais lento, é quando você corre mais e, nas horas sofridas, faz questão de diminuir a marcha. Você faz as férias passarem rápido, os filhos crescerem rápido, os dias terminarem rápido; faz as dores parecerem intermináveis, as angústias duradouras, os conflitos eternos. E depois de um tempo, que você decide quando, abre o tempo e cura as feridas.
Desvairado, insistente, incansável, você se deixa ser levado por si, sem se preocupar com o que faz enquanto gira na vertigem do relógio. Respeito sua natureza obstinada, mas é injusto você querer me levar no seu ritmo. Tenho um compasso diferente, que nem sempre quer te acompanhar.
Preciso de um tempo. Caminhar juntos o tempo todo me sufoca. Queria viver sem você me vigiar, poder te pausar, congelar, te fazer mudar de ideia, voltar atrás, trazer para hoje algumas coisas que deixou para trás. Queria poder avançar, visitar o que vem pela frente e depois retroceder para tentar fazer melhor. Queria, enfim, fazer do meu tempo o que eu bem entendesse.
Mas você é quem dita as horas e nós obedecemos. Para você, somos nada mais do que nanopartículas dos grãos de areia que passam por sua ampulheta infinita. Mas, se não fôssemos nós, o que seria de sua ampulheta vazia?
Sei que não tenho te dado o valor que você merece. Tento não desperdiçar a sua presença, mas algumas armadilhas me fazem esquecer da sua importância, como se você fosse ficar comigo para sempre.
Vamos tentar equilibrar essa relação? Ainda é tempo, ainda dá tempo.
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