Descrição de chapéu
Eurico de Andrade Neves Borba

Talvez só o medo da catástrofe final nos salvará

Resgate do humanismo é esperança contra mudança climática e desemprego no futuro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Eurico de Andrade Neves Borba

Aposentado, foi professor da PUC-Rio e presidente do IBGE

Poucos leem, e a maioria não entende o que leu, devido à baixa formação intelectual que tiveram.

Notícias, interpretações e proposições para a solução do caos social são várias. As pessoas não querem mais saber de tragédias e anúncios de dias difíceis no futuro —preferem comicidades, vulgaridades, superficialidades.

Uma grave crise climática atinge o planeta, e a humanidade não percebe a gravidade da situação: o aumento do nível do mar inundando as regiões litorâneas; o aquecimento da atmosfera provocando mudanças nos regimes de chuvas, ventos e temperaturas, afetando plantações, estilos de vida e o comércio internacional. Neste século 21 ocorrerá, possivelmente, a morte de bilhões de pessoas pela guerra na disputa por alimentos, ou por novas epidemias, ou pela fome ou inadaptação de populações inteiras às novas condições climáticas.

As novas tecnologias já começam a dispensar mão de obra. Não haverá emprego para todos. Alguns poucos milhões de pessoas, capacitadas, serão capazes de operar o aparato produtivo e distributivo de bens e serviços, com graves consequências sociais e políticas na organização e no funcionamento das sociedades democráticas.

O desenvolvimento da informática e da inteligência artificial, junto com os imensos bancos de dados interligados, possibilitará a interferência da classe dominante na privacidade de todos, induzindo modos de consumo, maneiras de pensar e de viver, tudo adequado aos seus interesses de manutenção do poder.

A progressão da concentração de renda consolidará uma classe dirigente, formada de pessoas competentes, mas afastadas da reflexão ética. Viverão em seus espaços próprios de convivência, seguros e confortáveis, não se importando com o entorno de miséria que está sendo gerado, ditando normas de comportamento e de submissão a bilhões de seres humanos que, se sobreviverem às alterações climáticas, viverão excluídos da riqueza gerada.

O que acima descrevi, sinteticamente, possivelmente acontecerá se nada for feito nestes instantes finais do tempo que nos resta para tentar salvar o planeta e a humanidade.

O caminho a ser trilhado é único e só será alcançado pela educação universal de qualidade e o comportamento moral solidário. Acreditar que o próximo são irmãs e irmãos, que precisam ser incorporados à nova sociedade global democrática, livre e justa, é o resgate do humanismo. É o que nos resta, e temos pouco tempo para fazer o que é preciso.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.