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A líder e o inverno

Nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, assume em cenário adverso

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A nova primeira-ministra britânica, Liz Truss - Hannah McKay/Reuters

A lista de problemas com os quais Liz Truss, a nova primeira-ministra britânica, terá de lidar a partir de agora não é pequena nem simples.

O mais premente é o preço da energia. As contas de eletricidade e gás dos britânicos devem subir 80%, por causa, principalmente, da guerra na Ucrânia. A partir do próximo mês, quando os aquecedores serão ligados, algumas famílias menos abonadas terão de escolher entre calor e comida.

Somam-se a essa dificuldade uma rara inflação em dois dígitos e uma recessão econômica iminente.

Ademais, Truss assume a cadeira de forma evidentemente legítima, mas sem ter recebido a chancela da maioria dos britânicos nas urnas.

Ela substitui Boris Johnson, que renunciou ao posto. Foi escolhida por meio de um processo interno do Partido Conservador, no qual tiveram voz e voto apenas parlamentares da legenda, na primeira fase, e seus filiados, na etapa final —um colégio de cerca de 170 mil pessoas, enquanto a população do Reino Unido é de 67 milhões.

Assumir em situações adversas não é necessariamente sinônimo de insucesso político. Não foram poucos os líderes que se consagraram em parte por terem sido capazes de contornar dificuldades.

Um deles foi a também primeira-ministra Margaret Thatcher, na qual Truss se inspira e cujo modelo econômico liberal pretende reeditar. Fala-se em cortar impostos para estimular o crescimento e facilitar investimentos na produção de energia, incluindo a nuclear.

A grande dúvida é se essa fórmula de Estado menor, que raramente produz resultados imediatos, funcionará num contexto em que mais pessoas precisam da ajuda do Estado e têm pressa. O inverno, afinal, está chegando.

A nova governante indicou que não quer transformar subsídios na principal política de enfrentamento da crise, mas já se noticia que haverá dinheiro público para baratear o consumo de energia.

No front externo, Truss, que é a terceira mulher a assumir o governo britânico (todas conservadoras), diz que se manterá firme na ajuda à Ucrânia e não dá indícios de que procurará um relacionamento menos conturbado com os ex-sócios europeus.

Numa nota de curiosidade, ela nasceu numa família de esquerda. Quando criança, era levada pela mãe a manifestações contra Thatcher. Mudou de lado após passar pela Universidade de Oxford. A mãe a perdoou, mas o pai, não.

editoriais@grupofolha.com.br

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