A nova edição do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que examina os anos de 2020 e 2021, reflete os efeitos drásticos das crises que assolaram o planeta nesse período, notadamente a pandemia e suas consequências econômicas.
Pela primeira vez desde que começou a ser calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), há três décadas, o IDH regrediu em âmbito global por dois anos consecutivos, levando os índices de bem-estar social de volta ao patamar de 2016.
Trata-se de um declínio quase generalizado. Mais de 90% dos países apresentaram piora na pontuação em 2020 ou 2021, e mais de 40% tiveram queda nos dois anos, num sinal eloquente de que a crise segue se aprofundando em boa parte do mundo, aponta a agência da ONU.
No último grupo figura o Brasil —que não apenas não escapou à regressão geral como ainda registrou um recuo maior do que a média global. A pontuação nacional caiu de 0,766 em 2019 para 0,758 em 2020 e 0,754 no ano passado, fazendo com que o país retornasse ao patamar de 2014.
Em âmbito regional, patinamos com um índice inferior aos de Chile, Argentina, Uruguai e Peru.
A lista de nações com IDH considerado muito elevado, acima de 0,8, é encabeçada por Suíça, Noruega, Islândia, Hong Kong e Austrália. No grupo de baixo desenvolvimento (abaixo de 0,55), há 32 nações, e as cinco piores são africanas —Burundi, República Centro-Africana, Níger, Chade e Sudão do Sul.
O desastroso desempenho do país na pandemia, que já resultou em quase 700 mil brasileiros mortos, foi o fator determinante para a queda do IDH nacional. Na comparação com os dados de 2019, o único indicador que apresentou piora foi a saúde. Na renda média, verificou-se algum avanço; na educação, seguimos estagnados.
Naquele ano, a expectativa de vida média ao nascer era de 75,3 anos, mas, em 2021, ela desabou para 72,8 anos —nada menos que um retorno ao nível de 2008.
O mau resultado no ranking fica mais evidente quando se considera a variante do IDH que leva em conta a desigualdade de renda, chaga secular do país. Nesse recorte, perderam-se 20 posições.
Em parte, o retrocesso brasileiro pode ser explicado por fatores globais. Entretanto vem de longe o progresso sofrível do país, numa combinação de crescimento econômico insuficiente e baixa eficiência dos gastos públicos.
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