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Becky Korich

Me engana que eu (não) gosto

O fato é que todos mentem, inclusive você e eu

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Becky S. Korich

Advogada, dramaturga e cronista do blog www.quarentenando.com

Véspera de eleições, abre-se o vespeiro de mentiras. No vale-tudo dos últimos minutos da corrida, não há como escapar de inverdades, erros e exageros.

São mentiras de todas as espécies: descaradas, tímidas, dissimuladas, importantes, irrelevantes, de defesa, de ataque. O objetivo comum: vencer as mentiras —ou as verdades— dos outros. Mentem por um "bem maior", não raramente, para tornar os seus próprios "bens maiores". Alguns dizem que até as urnas mentem, que a ciência mente, o que, aliás, é uma mentira importada. Outros, habituados com a prática, mentem tanto que chegam a mentir a própria mentira. Tem os que mentem para o juiz e aproveitam os olhos vedados da Justiça para sair de fininho. E os que roubam mentiras de outras gestões, se apropriando de mentiras que deram certo.

O fato é que todos mentem, inclusive você e eu. Ninguém escapa, questão de sobrevivência. A natureza humana, incoerente, inconsistente e mutante que é, nos impõe o ato de mentir. Como nada na vida é uma linha reta, às vezes precisamos de alguns atalhos. Não defendo a mentira, muito pelo contrário. Ainda que ela tenha razões que a própria razão desconhece, não deixa de ser feia, danosa, desprezível.

Quando se trata de uma figura pública, um político que jura pela fé e pela pátria, faz promessas olhando para os olhos do eleitor, ela ganha contornos piores: é trair, iludir, dar uma rasteira e mostrar uma banana para o povo faminto de esperanças. Ludibriar os cidadãos, tanto faz se do bem ou do mal, tem um quê de crueldade.

O poder não legitima mentiras, e sim, as agrava. Mentir usando o povo é se apropriar do poder que dele emana, sem que se o exerça em seu nome. É golpe baixo. E a nós, não resta outra opção senão fingir que uma mentira ou outra não faz mal, que faz parte desse jogo lamacento, e escolher em qual mentira mais nos interessa acreditar.

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