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Nilma Fontanive e Ruben Klein

O que o Saeb revelou sobre os efeitos da Covid-19 na educação

Merece especial atenção o ensino dos alunos do 1° ao 5° ano do fundamental

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Nilma Fontanive

Doutora em educação (PUC-Rio), é coordenadora do Centro de Avaliação da Fundação Cesgranrio, responsável pelas análises do Saeb e da Prova Brasil e membro do Movimento Pela Base

Ruben Klein

Doutor em matemática pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), é consultor da Fundação Cesgranrio e membro do Movimento Pela Base

Nos dois últimos anos, o mundo foi atingido por uma emergência sanitária sem precedentes neste século —a pandemia de Covid-19, que, em maior ou menor proporção, flagelou a população de quase todos os países.

Além das vidas perdidas e dos custos financeiros, materiais e sociais resultantes das necessárias medidas de isolamento adotadas para diminuir a propagação do vírus, muito se tem falado das ações que as escolas empreenderam para apoiar, ainda que minimamente, seus alunos, tanto no suporte alimentar provido pela merenda escolar como nas atividades didático-pedagógicas de implementação dos currículos.

Diante desse contexto de crise, algumas pesquisas foram e ainda estão sendo realizadas para medir o impacto do fechamento das escolas no desempenho dos alunos nestes dois últimos anos. No Brasil, a comparação do desempenho escolar em séries históricas distintas é possível graças à existência do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), que vem acompanhando há quase 30 anos os desempenhos dos alunos brasileiros em língua portuguesa e em matemática.

Graças à adoção da TRI (Teoria da Resposta ao Item), aplicada no Saeb desde 1995, foi possível obter escalas únicas entre séries e anos, uma para cada disciplina avaliada. Para cada disciplina, em 1997, a média e o desvio padrão da distribuição das proficiências foram arbitrados em 250 e 50, respectivamente.

Os pontos das escalas são interpretados descrevendo os conteúdos e habilidades que os alunos demonstram possuir ao dar as respostas corretas nas provas. As descrições costumam se apresentar com frases de fácil entendimento pelos professores ou leitores não especializados, pais e comunidade em geral. Por exemplo: "os alunos são capazes de ler palavras e textos apoiando-se em imagens de rótulos e embalagens". Em 2019 o Saeb introduziu uma avaliação de leitura, escrita e matemática para os alunos do 2º ano do ensino fundamental. Foi criada uma escala própria com a média arbitrada em 750 e desvio padrão 50. Essa média foi escolhida para diferenciar do Saeb das séries já avaliadas.

Os dados do Saeb 2021 mostram que houve queda de desempenhos dos alunos, fruto do impacto da Covid-19 na escola brasileira. A maior queda foi em leitura e escrita no 2º ano do ensino fundamental: a média de 750, em 2019, caiu para 726, cerca de meio desvio padrão, uma queda muito grande. Na matemática, a queda foi menor, de 750 para 741, ou seja, 9 pontos.

Nas outras séries, houve queda também, sendo que as maiores foram no 5º ano, indicando que os alunos do 1º ao 5º ano do fundamental foram os mais prejudicados, pois são mais dependentes da escola e seus professores.

No 5º e 9º anos do fundamental e na 3ª série do ensino médio, as quedas foram maiores em matemática, confirmando que essa disciplina está essencialmente ligada a um maior conhecimento escolar.

Observa-se que as médias em língua portuguesa regrediram aos valores de 2015 no 5º ano (queda de 6,6 pontos), aos valores de 2017 no 9º ano (queda de 2,2 pontos) e, na 3ª série do ensino médio, caíram em relação a 2019 (3,5 pontos). Em matemática, as médias regrediram aos níveis de 2015 no 5º e 9º anos (quedas de 11 e 6,7 pontos, respectivamente). Na 3ª série do médio, a média regrediu ao ano de 2017 (queda de 7,6 pontos).

A realização do Saeb foi extremamente importante, mostrando o que aconteceu com a aprendizagem dos alunos com o fechamento das escolas e subsidiando as autoridades educacionais para a implementação de políticas de retomada da tendência de crescimento do desempenho que vinha ocorrendo.

Merece especial atenção a aprendizagem dos alunos do 1° ao 5° ano do ensino fundamental, que mostrou maior queda de desempenho. É importante implementar ações pedagógicas para recuperar esse segmento, visto que as aprendizagens do início da escolaridade do ensino fundamental podem ter repercussões negativas no desempenho futuro dos alunos em toda a sua vida escolar.

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