Descrição de chapéu
Alexandrina Meleiro

Setembro amarelo e o aprendizado diário da saúde mental

Nesta avalanche de incertezas, dores e medos, não ficamos atentos aos sinais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Alexandrina Meleiro

Médica psiquiatra, é membro do Conselho Científico da Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos)

Nem sempre percebemos que estamos chegando ao limite e, consequentemente, não sentimos que receber ajuda é necessário.

De 2020 para cá tivemos que ficar trancados em casa, sentimos medo de perder o emprego —ou o perdemos—, fomos afastados de pessoas que amamos, tivemos que nos adaptar a vários protocolos sanitários, aprendemos outras formas de trabalhar e, principalmente, choramos a morte de pessoas queridas. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, somente no primeiro ano da pandemia, os quadros de depressão e ansiedade aumentaram mais de 25%.

Nesta avalanche de incertezas, dores e medos, não ficamos atentos a sinais como insônia, ansiedade, isolamento, desesperança ou até mesmo mudanças bruscas de humor, que indicam que algo não vai bem com a nossa saúde mental. A depressão nem chega a ser cogitada.

A mais recente pesquisa Datafolha "Saúde Mental dos Brasileiros 2022", encomendada pela Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) e pela Viatris, revela que "a conta" chegou: 53% (ou seja, mais da metade dos brasileiros) responderam que passaram por um período de cansaço e desequilíbrio emocional extremos, seguido de uma sensação de desgaste físico e mental que perdurou por mais de um dia —ou convivem com alguém que foi acometido por esses sintomas.

A pesquisa mostrou ainda que a maioria dos impactados eram mulheres: 57% afirmaram passar por algum tipo de contato com esgotamento mental. Foi constatado que 63% dos jovens de 16 a 24 anos entrevistados vivenciaram situações de estresse e cansaço por mais de um dia. São os mesmos grupos mais impactados na saúde mental durante a pandemia de Covid-19, segundo a OMS.

Mais um ano e estamos novamente no Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio. Essa pesquisa, que nos convida à reflexão e à valorização do autocuidado em prol da saúde mental, faz parte da Campanha "Bem Me Quer, Bem Me Quero: Cuidar da Saúde Mental é um Exercício Diário", promovida pela Abrata em parceria com a Viatris. Não é em vão que neste ano a OMS convidou as pessoas a remodelar os ambientes que interferem na saúde mental.

Pode parecer clichê, mas é preciso mudar hábitos, criar condições favoráveis para o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e procurar ajuda terapêutica. Isso não só durante o mês de setembro, mas ao longo de todo o ano, já que cuidar da saúde mental precisa ser uma prática diária O esgotamento mental requer uma análise.

Adaptar-se e ser resiliente faz parte da nossa essência, mas ter a noção exata dos nossos limites, aprender a conviver e a respeitá-los deve ser mais prioritário neste momento.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.