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Silvana Krause e Bruno Schaefer

Da antipolítica à desaprovação de governo

Em 2022, eleitor tem curto atalho para decidir voto

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Silvana Krause

Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS e secretária-geral da Abrape (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais)

Bruno Schaefer

Doutor em ciência política e professor substituto da UFRGS

Não há dúvidas de que a eleição de 2018 foi mobilizada pela negação da política e abriu uma janela de oportunidade para candidatos que melhor representaram essa demanda. O político experiente e profissional simbolizou o que o eleitorado mais rechaçava na opção de voto. Foi um pleito disruptivo.

Já as pesquisas de intenção de voto na eleição de 2022 têm apresentado mudanças nas motivações do eleitor em várias dimensões.

Em 2018, não concorreu ao pleito um candidato à reeleição (ou que defendia o governo bastante impopular de Michel Temer), e o eleitor foi mobilizado por um sentimento de rejeição à política tradicional e ao político com trajetória tarimbada na vida da administração pública. Taxas recordes de renovação e a vitória de um presidente que se apresentava como outsider, em que pese sua longa trajetória na vida pública.

Nesta eleição, por sua vez, há dois candidatos à Presidência conhecidos e experimentados, um contexto inédito em que o eleitor tem a oferta de um curto atalho para a decisão do voto. Este elemento é central para compreender as razões do quadro de estabilidade das intenções de voto e a até então nunca vista convicção solidificada do eleitor.

Em 2018, o pleito foi marcado por instabilidade e indecisão, enquanto 2022 se caracteriza pela estabilidade nas preferências. De setembro de 2017 à véspera do pleito de 2018, houve variação de 25% para menos de 6% dos eleitores indecisos. Já na atual eleição, de setembro de 2021 a setembro de 2022 os indecisos variaram menos de 4%.

Chama a atenção que não somente os indecisos apresentam tendências distintas nas duas eleições. Em 2018, há poucos dias antes do escrutínio, 28% ainda admitiam mudar seu voto (Datafolha, 23/9/18). Quadro muito diferenciado desta eleição, em que apenas 11% dizem que poderiam fazer o mesmo (Datafolha, 23/9/22).

A perspectiva, desta vez, ao que as intenções de voto indicam, não é privilegiar a opção pela aventura, mas um voto mais pragmático. Um retorno ao voto retrospectivo parece ser o centro maior na decisão do eleitor. Lula apresenta a vantagem de ter alcançado no fim de seu governo a aprovação de 82%, e Bolsonaro apenas 32% (Datafolha 21/9/10 e 22/9/22). A diferença na desaprovação (ruim e péssimo) de ambos é gritante no fim de seus governos. Lula apresentava apenas 3%, e Bolsonaro, 44%. Bolsonaro manteve alta sua desaprovação durante todo seu governo. Uma diferença fundamental para compreender esta eleição.

Cabe lembrar que, em 2018, o atual presidente, pouco antes de ser eleito, já tinha uma rejeição de 46% (Datafolha, 28/9/18). Ao observarmos o movimento da intenção de voto na antessala do pleito, a rejeição de Bolsonaro é a grande barreira apresentada em sua campanha: 52%, enquanto Lula tem 39%. Ela é um elemento central nesta eleição. O presidente não diminuiu sua rejeição estando na posição de governo; ao contrário, aumentou.

A desaprovação do governo está colada na sua rejeição atual. Ao que o cenário indica, viemos de uma onda de rejeição à política para uma onda de rejeição a um governo não bem avaliado.

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