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Oded Grajew

Os empresários e a política

Além da economia, busquem um país mais justo, humano e sustentável

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Oded Grajew

Idealizador do Fórum Social Mundial, é presidente emérito do Instituto Ethos e conselheiro do Instituto Cidades Sustentáveis; fundador e ex-presidente da Fundação Abrinq

Em que país vivem os empresários brasileiros? No país que é a 10ª economia do mundo, detentor da maior reserva de água doce e do maior patrimônio de biodiversidade do planeta; no 4º maior produtor agrícola; no 7º em recursos naturais; e no 18º em produção industrial. Um país rico, portanto.

Ao mesmo tempo, estamos em 87º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); em 60º em qualidade de educação; e 33 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar, metade na pobreza e 22% na extrema pobreza. Por ano, 41 mil pessoas morrem assassinadas, das quais 78% são negras. E o 1% mais rico possui 49% da riqueza da nação, enquanto 5% auferem 95% da renda. No Brasil, as mulheres ganham 62% do que os homens recebem, e negros, 57% do que ganham os brancos. Os mais pobres pagam 32% da renda em impostos, e os mais ricos apenas 21%. O Brasil liderou o ranking mundial de perda de florestas em 2021, com 1,5 milhão de hectares de florestas tropicais primárias a menos.

Oded Grajew, presidente emérito do Instituto Ethos - Zé Carlos Barretta/Folhapress

O setor empresarial é muito poderoso. Tem poder econômico, financeiro e cultural. Portanto, pode influenciar agendas e prioridades da sociedade (a maioria dos meios de comunicação está nas mãos do setor privado). Sem falar, por óbvio, da imensa influência política.

Os empresários têm acesso privilegiado aos políticos. É só olhar a agenda dos parlamentares, prefeitos, governadores e do presidente. A maioria dos empresários usa esse poder para defender seus interesses pessoais e de suas empresas. Usaram esse poder para fazer do Brasil uma potência econômica. Deveriam usá-lo também para fazer do Brasil um país justo, humano e sustentável, gerindo as empresas de forma socialmente e ambientalmente responsável, investindo na comunidade e gerando exemplaridade e legitimidade —mas também influenciando os agentes públicos para implementar políticas que reduzam as imensas desigualdades e preservem nosso riquíssimo patrimônio ambiental.


Porque são as políticas públicas que, em qualquer país do mundo, pela escala, transformam e impactam a sociedade. Por exemplo: empresários podem pressionar por uma reforma tributária progressiva, que tribute mais quem ganha mais e tribute menos quem ganha menos. Por melhor gestão e mais recursos na educação, em todas as áreas sociais e de gestão ambiental. Privilegiando sempre os mais pobres e vulneráveis. Individualmente ou coletivamente, através de organizações e entidades empresariais, nacionalmente, regionalmente ou localmente, os empresários poderiam montar uma agenda socioambiental em parceria com organizações da sociedade civil com notório conhecimento e militância nas áreas.

E como são os políticos que estabelecem as políticas públicas, os empresários deveriam se empenhar para proteger e fortalecer a nossa democracia e ajudar a eleger os candidatos afinados com essa visão de país. Quanto maior o poder, maior deveria ser a responsabilidade. Os empresários cidadãos deveriam se empenhar para que o Brasil, além de estar nas primeiras colocações do ranking econômico, esteja também entre os dez primeiros nos rankings humano, social e ambiental.

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