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Maria Alice Setubal (Neca) e Mariana Almeida

Por que votamos em Lula

Trata-se de construir uma concertação nacional, de restabelecer a escuta

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Maria Alice Setubal (Neca)

Doutora em psicologia da educação (PUC-SP), socióloga e presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal

Mariana Almeida

Superintendente da Fundação Tide Setubal, é professora do Programa Avançado em Gestão Pública do Insper e doutora em economia do desenvolvimento (FEA-USP)

Enquanto discutimos propostas e medos do passado, o presente nos atropela. Neste período eleitoral, temos debatido muito mais erros e concepções de períodos anteriores do que refletido sobre os desafios que temos para o futuro. E eles não são poucos ou simples. Vivemos múltiplas crises: econômica, política, social e ambiental.

Estamos nos referindo tanto aos passivos históricos, como desigualdades sociais e raciais, que nunca resolvemos, quanto aos desafios impostos pela aceleração das mudanças climáticas e o advento das novas tecnologias, que impactaram nossa forma de produzir e de consumir e mudaram de maneira definitiva a organização do mundo do trabalho.

São transformações profundas, que alteram os eixos fundamentais do mundo em que vivemos e para as quais não há respostas definitivas, ainda que haja diferentes níveis de amadurecimento entre países e continentes. O que se sabe é que para resolver os nossos atuais desafios não é mais possível pensar em velhas receitas, seja do mundo público, seja do mundo privado.

No campo corporativo, os indícios dessa mudança aparecem, por exemplo, na cobrança por maior engajamento na chamada agenda ESG, com debates que apontam para a necessidade de que alguns princípios passem a valer dentro do modelo de negócio —e não apenas como projetos adicionais da área filantrópica das empresas.

No campo público, a pandemia deixou explícita a importância da coordenação —ou descoordenação— dos governos para o atingimento de melhores resultados coletivos, demonstrando o quão anacrônico é o debate entre Estado máximo e Estado mínimo. O que importa é ter um Estado bom, capaz de garantir direitos para que cidadãs e cidadãos acessem igualmente oportunidades e possam atingir o pleno desenvolvimento de suas potencialidades.

Para os desafios que se colocam em nosso futuro, cada setor da sociedade precisa se reinventar e construir novas formas de atuar conjuntamente. São questões que não se resolvem de maneira isolada. A reparação racial não é um problema apenas do Estado, assim como a transição para uma matriz energética limpa não pode ser deixada apenas nas mãos do setor privado. São inúmeros os exemplos que apontam para o fato de que a responsabilidade pela construção dessas soluções tem que ser compartilhada entre governos, empresas e terceiro setor num grande pacto em nome do que queremos: uma sociedade mais justa, menos desigual, desenvolvida, livre e sustentável.

No Brasil, trata-se de construir uma concertação nacional, de abandonar esse ambiente de disputas profundas, como se houvesse algum detentor da verdade e guardião de todas as respostas. Não há. Precisamos restabelecer a capacidade de escuta e o exercício de valorização dos indivíduos, das instituições e das organizações. Precisamos colaborar.

É por isso que o voto neste segundo turno deve levar em consideração quem, dentre os candidatos que até aqui chegaram, é capaz de melhor promover essa concertação nacional. Acreditamos que essa pessoa é Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso porque Lula não defende a violência como método de solução de conflitos, não despreza procedimentos institucionais, respeita as regras do jogo e já liderou uma concertação em um outro momento, fazendo o país viver um período importante de desenvolvimento com distribuição de renda. Neste ano, Lula deu sinais contundentes de abertura ao escolher como seu vice um antigo concorrente, Geraldo Alckmin (PSDB), fato que não deve ser menosprezado.

É disso que se trata a democracia. De abertura para a conversa, de construção de procedimentos conjuntos e de uma capacidade de somar frentes por um pacto coletivo maior. E é de mais democracia que precisamos —não de menos— para combater nossos problemas econômicos, ambientais, sociais e políticos. Então não se trata de dar um voto ao passado, mas ao futuro. Pela democracia, pelo Brasil, pelo futuro, votamos Lula.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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