Descrição de chapéu
Ana Lucia Villela

A mãe de todas as causas

Crianças devem ser prioridade nas estratégias contra as mudanças climáticas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ana Lucia Villela

Membro do Conselho de Administração do Itaú, é cofundadora e presidente do Instituto Alana

"A humanidade tem uma escolha: cooperar ou perecer". Foi essa a mensagem do secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da COP27, a Conferência do Clima da ONU em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Devemos prestar atenção ao que está sendo conversado e negociado no Egito. A COP27 não é apenas mais um encontro para discutir a implementação dos compromissos assumidos no Acordo de Paris. Essa conferência acontece num momento em que o mundo cobra respostas concretas sobre a emergência climática. E será um divisor de águas em relação à participação de todos nós, a sociedade civil, na defesa do meio ambiente. Não há direitos, nem humanos, sem natureza. Não há economia, nem sociedade, sem natureza. Independentemente de nossa área de atuação, estamos todos conectados à mãe de todas as causas: a proteção do meio ambiente.

Está ultrapassada a ideia de desenvolvimento a qualquer custo, e o brasileiro concorda com isso. Pesquisa recente do PoderData, a pedido do Instituto Clima e Sociedade (iCS), mostra que 70% da população vê relação entre a floresta e o crescimento econômico. Proteger as florestas é o ponto de partida para que o país volte a crescer. É impossível pensarmos em educação, saúde, tecnologia ou empreendedorismo quando a própria sobrevivência da humanidade está em xeque.

O mundo vive um cenário de eventos climáticos extremos e suas consequências afetam de forma ainda mais contundente as populações mais vulneráveis —especialmente crianças e adolescentes, e ainda mais as pobres, pretas, indígenas e com deficiência—, vítimas invisíveis de um problema que não criaram e que sofrerão as consequências por toda a vida. Temos 1 bilhão de crianças e adolescentes, quase metade dos 2,2 bilhões do mundo, vivendo em países classificados como de risco climático extremamente alto, incluindo o Brasil, como mostra relatório do Unicef.

No Alana, ecossistema de organizações de impacto que fundei há 28 anos e tem as infâncias como foco, a agenda do meio ambiente é prioridade. Entendemos que as crianças têm direito a um ambiente ecologicamente equilibrado. É o que manda a Constituição no art. 225. Participamos do Movimento Climático pela Infância em Primeiro Lugar, que visa colocar as crianças no centro das negociações sobre o clima.

Com o lema #KidsFirst ("crianças primeiro"), defendemos a integração massiva e sistêmica dos direitos das crianças nas negociações climáticas para que seja colocado em prática um plano de ação com esse objetivo. Essa não é uma ação que se resolve rapidamente. É preciso tempo, preparação e principalmente, colaboração. Queremos que as crianças sejam consideradas grupo prioritário nas medidas e estratégias de adaptação às mudanças climáticas. E, no âmbito do financiamento, buscamos que sejam criados mecanismos para direcionar recursos às crianças em situação de vulnerabilidade climática.

O mundo vive uma complexa crise geopolítica e socioeconômica. O Brasil deverá restabelecer o caminho do diálogo com outras nações sobre a questão climática. Precisamos de ação. Como disse Guterres: precisamos de colaboração. Cabe não só aos empresários, ativistas, acadêmicos e políticos ouvir o clamor das novas gerações, que assumiram para si a responsabilidade de salvar o nosso futuro no presente. Essa é a grande missão que deve unir a todos. Não imagino um caminho alternativo —nem um mais imprescindível, urgente, essencial. Vamos juntos?

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.