Descrição de chapéu
Marcelo Queiroga

É hora de renovarmos o pacto contra a pólio

Precisamos unir esforços para que a vacina chegue a milhões de crianças

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Marcelo Queiroga

Médico cardiologista, é ministro da Saúde

O ano era 1988, e mais de 160 países do mundo se uniram por uma resolução internacional para a erradicação mundial da poliomielite. A ação resultou na Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e mais de 10 milhões de casos evitados no mundo. Os países que registraram endemia da doença foram reduzidos de 125 para 2.

No mesmo ano, no Brasil, um marco histórico mudou a saúde pública: a promulgação da Constituição Federal. O acesso à saúde passou a ser direito fundamental de todos os brasileiros. Essa é a base do Sistema Único de Saúde (SUS), garantia do compromisso nacional pela eliminação da pólio. Um ano depois, em 1989, o Brasil registraria o último caso na cidade de Sousa, na Paraíba, resultado da primeira campanha de vacinação que começou dez anos antes. O avanço da imunização trouxe proteção para as crianças, deixando o fantasma da poliomielite no passado.

Criança é vacinada em São Paulo - Rivaldo Gomes - 1.set.18/Folhapress

É um passado nem tão distante: são mais de 30 anos sem poliomielite no Brasil. Mas o suficiente para compreendermos a importância de campanhas de vacinação efetivas, da adesão de pais e mães e da força do sistema público de saúde na eliminação dessa doença em território nacional. Infelizmente, aqui estamos debatendo novamente o risco de reintrodução da pólio no nosso país e de que maneira podemos enfrentar e vencer esse desafio.

É um desafio de todos, de países ricos a subdesenvolvidos, em todos os continentes. A queda nas coberturas vacinais é um fenômeno mundial dos últimos dez anos e pode ser atribuída, principalmente, à falta de memória das novas gerações, pais e mães jovens, que não conviveram com a gravidade de doenças preveníveis por vacinas, como a paralisia infantil. É um cenário que precisamos reverter com urgência e requer a articulação, adesão e união de todos —governo federal, estados, municípios, profissionais de saúde, entidades, sociedade civil.

O combate à pólio é pauta internacional e coloca o nosso país na vitrine diante do sucesso das campanhas de vacinação —somos autoridades em imunização em massa. Foi o Brasil que propôs esse tema nas discussões da última Conferência Sanitária Pan-Americana em Washington (EUA), em setembro. Lideramos a convocação para que todos os países da América unam esforços no enfrentamento à pólio.

No mês passado, o Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional de Resposta à Poliomielite, um documento que estabelece diretrizes de resposta coordenada nas três esferas de gestão do SUS, além de fluxos de notificação, investigação e avaliação de risco. A base para essa resposta está no fortalecimento da vigilância epidemiológica e laboratorial, um avanço importante dos últimos quatro anos.

Todas essas ações são extremamente significativas para colocar esse tema em discussão, encontrar caminhos e, principalmente, preparar o Brasil para esse enfrentamento. No entanto, a principal estratégia, o nosso foco e a prioridade máxima, segue uma só: vacinação. Só assim conseguiremos tirar o Brasil da classificação de risco muito alto, evitando a reintrodução do vírus.

Apesar das campanhas massivas, como a que foi feita neste ano e vacinou mais de 8 milhões de crianças abaixo de 5 anos, a cobertura vacinal segue inferior a 70%, longe do ideal de 95%. Nosso desafio é reverter o baixo índice de vacinação, principalmente entre as crianças menores de 1 ano de idade, faixa etária em que três doses da vacina inativada são recomendadas pelo Calendário Nacional de Vacinação.

As vacinas contra a poliomielite, uma conquista inestimável da ciência, seguem disponíveis ininterruptamente nas mais de 38 mil salas de vacinação do Brasil. Precisamos urgentemente fazer com elas cheguem aos braços de milhões de brasileirinhos. É nosso dever como gestor público, pai, mãe, avô, cidadão brasileiro. O futuro das nossas crianças não pode ser negligenciado.

O Brasil precisa refazer esse pacto concretizado há 32 anos, precisa unir esforços, colocar esse tema como prioridade, renovar o compromisso com as nossas crianças. Lutaremos incansavelmente para que esse fantasma do passado não volte a comprometer o futuro do nosso país.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.