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O que a Folha pensa Rússia

Recessão democrática

Avanço global do autoritarismo é fenômeno complexo que precisa ser combatido

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Polícia russa reprime manifestação contra prisão de Alexei Navalny, opositor do presidente Vladimir Putin - Maxim Shemetov/Reuters

Dos 8 bilhões de habitantes do mundo, 5,7 bilhões, ou mais de 70%, vivem em ditaduras ou em autocracias eleitorais —que são, segundo a terminologia do instituto sueco V-Dem, regimes nos quais há eleições, mas vários componentes da democracia, como liberdade de expressão e mecanismos de controle institucional, estão prejudicados.

Onze anos atrás, quando o planeta atingiu a marca dos 7 bilhões de habitantes, essa proporção era de 50%. No período, o número de autocracias fechadas passou de 25 para 30, um incremento relativamente modesto. Houve, porém, deterioração qualitativa em indicadores de democracia em vários países.
Boa parte do salto de 50% para 70% se explica porque a Índia, com 1,4 bilhão de habitantes, deixou de ser uma democracia para tornar-se uma autocracia eleitoral.

Regressões foram observadas também em países que não chegaram a perder o status de nação democrática, caso do Brasil. Mesmo os EUA e países avançados da Europa tiveram problemas, respectivamente, com a eleição de Donald Trump e o fortalecimento de partidos com tendências autoritárias.

Contudo vale registrar que brasileiros puseram fim ao governo Jair Bolsonaro (PL), que investia na corrosão institucional, e americanos derrotaram nas urnas a ala trumpista do Partido Republicano.

Há também países que já não se encontravam no campo da democracia e experimentaram piora.
É o caso da Rússia, que provocou uma guerra ao invadir a Ucrânia, intensificando a repressão interna, e da China, que deixou de ser uma ditadura coletiva, conduzida por partido único, para converter-se numa bem mais personalista sob Xi Jinping, que afastou rivais e eliminou barreiras a sua liderança.

Várias teorias tentam compreender o fenômeno. Há aquelas que recorrem à economia, as que se fundam na psicologia, outras que responsabilizam as redes sociais. Todas têm algum poder explicativo, mas é difícil apontar uma que comporte as diversas instâncias de regressão em todos os países.

O medo da imigração, por exemplo, parece ser um dos principais ingredientes a alimentar o populismo direitista nos EUA e na Europa, mas ele pouco esclarece sobre a situação no Brasil ou na Índia.

A recessão democrática contemporânea é um fenômeno complexo e não pode ser subsumido em um modelo simples. Isso não nos desobriga de tentar compreendê-lo em suas múltiplas dimensões nem de buscar antídotos —já que ainda não se encontrou um sistema de organização social e política superior à democracia liberal.

editoriais@grupofolha.com

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