O novo relatório do Unaids (Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids), lançado na semana passada, aponta que o mundo ainda está longe de tirar a doença da lista de ameaças à saúde pública, meta que a entidade estimava para 2030. O documento e especialistas apontam soluções, no entanto.
Transversalidade nas políticas de governo e de Estado é um dos meios de enfrentar a questão. Associar o acesso à saúde a outras iniciativas, em áreas como moradia e assistência social, jurídica e psicológica, pode ser um caminho.
Deve-se igualmente dissociar o HIV, o vírus, da Aids, a síndrome de imunodeficiência —nem todas as pessoas vivendo com HIV desenvolvem a síndrome, ainda mais quando assegurado o acesso adequado a cuidados preventivos.
No caso brasileiro, investir na educação de jovens de 15 a 24 anos se mostra essencial, dado que é nessa faixa etária que novas infecções pelo HIV têm mais crescido.
O trabalho do Unaids relata, por exemplo, que meninas que permanecem na escola até a conclusão do ensino médio tem até 50% menos risco de infecção pelo HIV.
Ao contrário do que pregam vozes obscurantistas, é vital tratar do tema de saúde sexual e reprodutiva para jovens nas escolas, com materiais adequados para cada idade.
Por aqui, a epidemia de Aids evidencia as desigualdades sociais. Enquanto a proporção de casos entre pessoas brancas diminuiu 9,8% entre 2010 e 2020, entre negros houve um aumento de 12,9%.
A disparidade permanece nos óbitos decorrentes da doença, com queda de 10,6% entre brancos e alta de 10,4% entre negros.
Persiste ainda a discriminação associada ao HIV, que inibe medidas de prevenção e tratamento, em especial para populações-chave como travestis e pessoas trans, gays, profissionais do sexo, pessoas em privação de liberdade e usuários de drogas injetáveis.
Um quarto dos brasileiros vivendo com o vírus não recebe tratamentos antirretrovirais; um estudo do Unaids com 1.784 pessoas soropositivas mostrou que 64% já sofreram algum tipo de discriminação. Cumpre combater o estigma.
Recursos são necessários, obviamente, e a saúde pública padece de subfinanciamento no país. Inexiste solução simples para o problema, e espera-se que o próximo governo seja capaz de levar adiante reformas que permitam direcionar o Orçamento público à prestação dos serviços essenciais.
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