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Uma frágil esperança

Sinalizações entre EUA e Rússia sugerem caminho para o fim da Guerra da Ucrânia

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Destruição causada pela invasão russa na cidade de Bakhmut, Ucrânia - Anatolii Stepanov/AFP

Após nove meses, a Guerra da Ucrânia segue sem um fim claro à vista, alimentando uma tragédia humanitária que não se via em conflitos entre Estados nacionais da Europa desde a Segunda Guerra, em 1945.

Não só isso: a economia global sofre os efeitos do cerco imposto a Vladimir Putin como punição por sua agressão ao vizinho, na forma de sanções e embargos.

A inflação de energia e de alimentos bate recordes, um cenário que é agravado pelas dificuldades enfrentadas na China com a ilusória política de Covid zero de Xi Jinping.

Em meio à escuridão do cenário, que emula os desumanos apagões que Putin impôs a boa parte da já invernal Ucrânia, surgiram algumas nesgas de luminosidade.

Tudo começou com declarações de membros do establishment americano, como o chefe militar Mark Milley, sugerindo que Kiev deveria abandonar sua intransigência e aceitar negociar com Moscou.

A Rússia, por sua vez, insinuou seus termos ao recuar tropas em um dos pontos ocupados, sugerindo uma fronteira de cessar-fogo.

A reação ucraniana foi a de dizer que lutaria até o fim, mesmo com "uma facada nas costas dos aliados", nas palavras de um assessor do presidente Volodimir Zelenski.

Buscando manter a fachada, para cada empurrão em favor de conversas por parte dos EUA, houve um renovado comprometimento com o apoio militar que permite à Ucrânia seguir em combate.

Só de ajuda militar direta, os EUA já empenharam quase US$ 20 bilhões neste ano, cinco vezes o orçamento de defesa de Kiev em 2021.

Os problemas surgem aí. A conta está ficando salgada, ainda mais com a perda do controle do Partido Democrata do presidente Joe Biden na Câmara dos Representantes. Se ninguém antevê republicanos retirando apoio de Kiev, o entusiasmo atual pode mudar.

Além disso, há uma crescente percepção de que a pressão econômica contra Moscou, que pune duramente o regime, não é exatamente uma bala de prata. O governante russo segue firme e o país resiste melhor do que o esperado.

Somada à noção de que o teto de preços ao petróleo russo, proposto pelo Ocidente, tende a não levar a nada além de mais inflação para o resto do mundo, chegou-se ao momento em que o próprio Biden sugeriu negociar.

Ele o fez de forma condicional, claro, exigindo a retirada russa dos cerca de 17% de território ucraniano. O Kremlin negou tal demanda, mas Putin diz que aceita conversar.

Trata-se de um avanço, apesar dos entraves, e talvez motivo para comedida esperança.

editoriais@grupofolha.com

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