Debate qualificado. Essa expressão, que muitas vezes se desgasta em confrontações políticas (instâncias em que, paradoxalmente, poucas vezes aparece de fato), resume um dos objetivos medulares da plataforma que o Cedra (Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais) inaugurou este mês —passado o calor dos embates eleitorais —, para revestir frios números estatísticos de carne e osso.
De forma didática, com fácil navegação e uma exposição clara das interrelações que apresenta, a página (cedra.org.br) oferece não só um conjunto de informações oficiais, mas a possibilidade de lê-las à luz de cruzamentos que iluminam a complexa estrutura da desigualdade no Brasil.
A partir de dados do Censo de 2010 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua entre 2012 e 2019, emergem fotografias problematizadas sob eixos cujos temas são população, condições de domicílio, escolaridade, ocupação e distribuição de renda, em análises desenvolvidas por especialistas em ciência de dados e pensadores da questão racial.
O olhar se detém ainda na interseccionalidade da discriminação: raça, gênero, idade se articulam para desvelar (ou evidenciar) dimensões do racismo. "É importante construir metodologias novas para entender políticas públicas mais eficazes, me refiro à ideia de transversalizar as políticas de forma que os múltiplos ministérios possam conter políticas para a equidade racial", disse à Folha o professor Helio Santos, um dos idealizadores da iniciativa, sobre seu desejo de que essa perspectiva se faça presente, por exemplo, no próximo governo.
Em sua carta de apresentação, publicada na plataforma, os criadores do projeto expressam ainda a intenção de oferecer insumos para a tomada de decisões também na esfera privada e "dialogar com todas as pessoas e instituições comprometidas com a construção de uma sociedade igualitária e socialmente justa".
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