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Devagar com o andor

Na busca por marca, prefeito de São Paulo flerta com políticas que exigem debate

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Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo - Ronny Santos/Folhapress

Estar à frente da maior e mais rica cidade do país pode catapultar voos mais altos, mas a Prefeitura de São Paulo, com seus monumentais desafios, é também pródiga em fulminar as carreiras políticas de seus incumbentes.

Diante de tamanha visibilidade e poder de ação, é natural, portanto, que prefeitos apostem em obras vultosas ou políticas públicas de impacto e perenes, que possam beneficiar milhões de paulistanos.

Tenta-se, assim, conquistar uma "marca", um legado do mandato. Prefeito há 19 meses, Ricardo Nunes (MDB) continua em busca da sua. Ainda pouco conhecido, o ex-vereador corre contra o tempo para viabilizar-se à reeleição em 2024.

Não faltam trunfos para tanto. No ano que vem, Nunes tem à disposição capacidade recorde de investimentos, na casa de R$ 11,5 bilhões. Exibe ainda invejável apoio na Câmara Municipal, que costuma aprovar seus projetos com celeridade raramente vista.

Foi nesse contexto otimista que o prefeito apresentou recentemente um nebuloso programa de reconhecimento facial de cidadãos.

Ao custo de R$ 70 milhões anuais, o "Smart Sampa" prevê a instalação de 20 mil câmeras e um monitoramento capaz de classificar pessoas como suspeitas e rastreá-las de acordo com características físicas, incluindo a cor da pele.

Com o objetivo declarado de ampliar a sensação de segurança, o sistema será capaz, nas palavras do prefeito, de "melhorar os serviços públicos", "integrar informações" e "ganhar em eficiência".

Dúvidas sobre a validade e o uso adequado da tecnologia, inclusive sob risco de injustiças e racismo; desconexão com as forças estaduais de segurança; escasso debate público. Essas e outras críticas, apontadas por diversos setores da sociedade, fez com que a licitação acabasse suspensa —mas não enterrada— sob a promessa de correções de rumo.

Também aventa-se na gestão Nunes a possibilidade de implantar a tarifa zero nos ônibus municipais. Tarefa descomunal e cercada de questionamentos, a gratuidade ainda está sob estudo técnico.

De imediato, para 2023, deseja-se pelo terceiro ano consecutivo o congelamento do valor das passagens, incluindo as de responsabilidade do governo estadual, como para trens da CPTM e metrô.
Ignorar pressões inflacionárias tem seu preço: os gastos com subsídios municipais são estimados em R$ 5 bilhões somente neste ano.

São Paulo tem pressa, não há dúvida. Mas, numa metrópole em que questões corriqueiras assumem dimensões insolúveis —como os semáforos que sofrem apagões ao menor sinal de chuva—, cumpre primeiro observar prioridades, viabilidades e urgências.

editoriais@grupofolha.com

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