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Camila Rocha

Dois pesos e duas medidas

Terrorismo de extrema-direita não se compara a táticas dos black bloc

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Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP, é autora de "Menos Marx, Mais Mises: o Liberalismo e a Nova Direita no Brasil" e coautora de "The Bolsonaro Paradox: the Public Sphere and Right Wing Counterpublicity in Contemporary Brazil"

A escalada de violência de apoiadores de Jair Bolsonaro que não reconhecem os resultados das eleições vem atingindo patamares alarmantes.

Uma série de atos criminosos gravíssimos foram cometidos no final do mês de novembro. A princípio, as ocorrências se deram em represália ao bloqueio das contas de 43 suspeitos de envolvimento em atos antidemocráticos, realizado pelo ministro Alexandre de Moraes.

Apoiador de Jair Bolsonaro segura bandeira em bloqueio na rodovia BR-251 em Planaltina - Diego Vara/Reuters

Para além dos bloqueios nas estradas, vêm sendo registrados atos de vandalismo, saques, incêndios e até mesmo sequestros. Mato Grosso, Santa Catarina e Rondônia concentram a maioria das ocorrências. Os três estados estão entre os que deram maior votação proporcional a Bolsonaro nas eleições de outubro.
Um dos casos mais graves ocorreu em Ariquemes (RO), onde houve interrupção parcial do abastecimento de água pela destruição de uma adutora do reservatório da cidade.

Não há dúvida de que se trata de terrorismo de extrema-direita.

Parte da imprensa, influenciada por uma analogia feita pela PRF de Santa Catarina, passou a comparar tais atos às táticas black bloc.

As diferenças não poderiam ser mais gritantes.

De um lado, adolescentes de baixa renda, munidos de paus e pedras, se defendem de abusos da polícia em protestos por mais direitos. Eventualmente, alguns atacam símbolos capitalistas. Não há lideranças ou qualquer tipo de organização prévia.

De outro, homens com picapes e armas de fogo, organizados e financiados por empresários ricos, atentam contra a democracia. Inconformados com um resultado eleitoral legítimo que lhes é desfavorável, buscam impor sua vontade por meio do terror de forma coordenada.

Em 2013, vidraças de bancos foram quebradas por black blocs. Em 2022, um banco figura entre os suspeitos elencados por Moraes.

Aos adolescentes, balas de borracha, perseguição e prisões aleatórias. Aos integrantes da lista do ministro, a morosidade na aplicação da lei.

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