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Nova Cultura

Área volta a ter ministério, que não pode focar no mero assistencialismo estatal

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Margareth Menezes, indicada para o cargo de ministra da Cultura - Pedro Ladeira/Folhapress

O convite feito à cantora Margareth Menezes para comandar a pasta da Cultura no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem duplo significado simbólico. Além da escolha de uma mulher negra e nordestina para ocupar cargo no primeiro escalão, volta-se a conceder ao setor cultural um ministério.

Após anos de ataques do governo Bolsonaro, seria natural que Lula desse um sinal ao meio cultural que, em grande parte, o apoiou.

Motivações políticas explicam o aspecto simbólico, que não é suficiente. A nova ministra deve apresentar e pôr em prática um plano que embase a atuação do ministério.

Não será difícil retomar um padrão mínimo de normalidade numa área que primou por aberrações. Para dirigir a Fundação Palmares, por exemplo, foi nomeado Sérgio Camargo, notório opositor a pautas do movimento negro. Sem esquecer a pantomima na qual o secretário Roberto Alvim emulou Goebbels, ministro de Hitler.

Margareth Menezes tem qualidades para ocupar o cargo. Como artista, ganhou reconhecimento nacional e internacional com a recriação e divulgação de gêneros musicais da tradição afro-brasileira e baiana.

Fundou, em 2004, a Associação Fábrica de Cultura, uma instituição social para os moradores do bairro do Ribeira, em Salvador. Também é embaixadora brasileira na Unesco, órgão das Nações Unidas para a preservação cultural.

A indicação de Menezes foi contestada por alguns membros do partido e agentes culturais. Para conquistar o cargo, contou com o apoio de Rosângela Lula da Silva, a Janja, futura primeira-dama.

Mas esse respaldo também trouxe inconvenientes. Esta Folha revelou que o escolhido pela futura ministra para a secretaria executiva do MinC acabou afastado em favor de uma preferência de Janja.

A cultura é um setor profissionalizado, que mobiliza investimentos vultosos e passa por uma revolução tecnológica digital. Ademais, é responsável pela preservação da memória erudita e folclórica do país —com apoio a bibliotecas, museus, orquestras etc. Não pode, portanto, ter caráter ornamental.

O ministério deve estar atento à necessidade de aperfeiçoamento e regulamentações atualizadas. Será bem-vinda uma visão aberta à interação com instituições privadas, considerando mecanismos de mercado, para não privilegiar gastos públicos e assistencialismo estatal. São desafios que Margareth Menezes terá de enfrentar.

editoriais@grupofolha.com

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