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O que a Folha pensa desmatamento

A volta de Marina

Ministra lidará com herança de Bolsonaro e velhos atritos com o PT

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Marina Silva (Rede), ministra do Meio Ambiente - Danilo Verpa/Folhapress

O desafio para Marina Silva (Rede) no Ministério do Meio Ambiente, 20 anos depois, supera o de sua primeira passagem pelo posto, no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —ainda que os números do desmatamento anual da Amazônia sejam hoje bem menores que o daquela época.

Foram 11,5 mil km² nos 12 meses encerrados em julho deste ano, acima dos 7,5 mil km² de 2018, antes do desastre promovido sob Jair Bolsonaro (PL), mas muito abaixo dos 21,6 mil km² de 2002.

A área devastada ainda aumentou no primeiro biênio de Marina no ministério, chegando a 27,7 mil km² em 2004. Cercada de técnicos competentes, ela logrou mobilizar outras pastas para um plano bem-sucedido de combate.

Em 2008, porém, pediu demissão após colidir com a ministra-chefe da Casa Civil na época, Dilma Rousseff (PT), adepta de grandes obras públicas. Em 2014, candidata a presidente da República, foi difamada pela campanha da mesma Dilma, sem que Lula a defendesse em nenhum dos episódios.

Desta vez, o líder petista demorou a confirmar a volta de Marina à pasta, tendo antes tentado entronizar ali Simone Tebet (MDB), de ligações com o agronegócio. No PT, não arrefeceu o pensamento assim chamado desenvolvimentista, que glorifica a Petrobras e seus combustíveis fósseis, os conglomerados agropecuários e as hidrelétricas na Amazônia.

Parece provável que a ministra cedo ou tarde vá bater de frente com os colegas na Casa Civil e na Agricultura. Pode parecer indemissível, pela reputação internacional granjeada, mas terá de mostrar mais habilidade do que no passado para entender-se com os demais setores do governo e do Congresso.

Os obstáculos não serão poucos, ainda mais com o fortalecimento dos ruralistas mais retrógrados e do esvaziamento dos órgãos de controle ambiental sob Bolsonaro.

Marina contará, porém, com uma geração de técnicos bem formados e experientes e sistemas para monitorar desmatamento mais avançados (Prodes nacional e MapBiomas, por exemplo).

Na sociedade, há uma ala rural modernizada e grandes empresários esclarecidos que se converteram à causa do aquecimento global. É provável ainda que fluxos financeiros mais encorpados do exterior cheguem aqui para apoiar o desenvolvimento sustentável.

Não é pouco. Entretanto a experiência dos últimos anos mostra que ainda não está maduro na vida política nacional —à direita e à esquerda— o entendimento básico de que preservação ambiental e desenvolvimento econômico precisam caminhar juntos.

editoriais@grupofolha.com

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