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O que a Folha pensa Cracolândia

Cracolândia sem fim

Se a segurança pública não se aliar a saúde e habitação, problema vai perdurar

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Policiais na região da cracolândia do centro de São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), procura uma solução rápida para a cracolândia. Contudo tentativas fracassadas de gestões municipais e estaduais, somadas à reformulação cosmética de políticas públicas para o local a cada novo mandato, deveriam deixar evidente que, quando o assunto é tratamento para usuários de droga, o tempo deve ser aliado.

Experiências internacionais e especialistas apontam para a necessidade de medidas interdisciplinares e de longo prazo. Na contramão desse consenso, a atual gestão oferece propostas de tom populista.

Numa delas, pretende-se oferecer R$ 600 mensais para quem abrigar pessoas em situação de rua, chegando a R$ 1.200 caso o cidadão acolha famílias. Há dúvidas sobre a efetividade da política em larga escala. Ademais, o assistencialismo da medida esconde que o déficit de moradia é um problema complexo e estrutural em São Paulo.

No ano passado, a prefeitura ensaiou medidas mais condizentes com iniciativas de sucesso em outros países, como o "housing first" ("moradia primeiro"), ao conceder habitações transitórias por até 12 meses. Ações do tipo, combinadas com tratamento de saúde integral para usuários e combate ao crime organizado para traficantes de grande porte, deveriam ser o foco.

Outra proposta problemática é a prisão em regime semiaberto de usuários que recusem internação. A medida confunde punição com tratamento, como se a restrição de liberdade gerasse algum tipo de melhoria de saúde, ou provesse segurança para a população que trabalha ou reside na região já gravemente deteriorada.

Ao contrário do que pode sugerir o senso comum, investir em medidas penais para usuários tende a legitimar violência, sem benefícios diretos que perdurem.

A aposta de Nunes na internação compulsória (definida pela Justiça) e na internação involuntária (com consentimento de um familiar e de um médico) apenas retira usuários da paisagem urbana, em vez de promover tratamento individualizado, baseado na confiança do paciente e em evidências científicas sobre o vício.

A cracolândia é um problema interdisciplinar. De fato, o patrimônio, tanto público como privado, e a população da região devem ser protegidos. Mas, para alcançar esse objetivo, apenas ações na área de segurança pública não são suficientes. Devem-se privilegiar tratamento médico, geração de renda e habitação a fim de obter resultados menos efêmeros.

editoriais@grupofolha.com.br

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