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Renan Filho

Infraestrutura para pavimentar as vias democráticas

Reduzir desigualdades passa pela modernização da logística de transportes

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Renan Filho

Ministro dos Transportes, é economista, senador eleito (MDB-AL) e ex-governador de Alagoas (2015-22)

Vivemos, até recentemente, um dos períodos mais conflagrados da nossa história. Assistimos à escalada do autoritarismo, da violência e da intolerância política. Consequência: isolamento do país, crescimento da miséria, colapso na saúde e na educação, obras paralisadas e rodovias em péssimo estado.

Com a vitória nas eleições da frente ampla e democrática liderada por Lula e Alckmin, iniciamos o governo com o compromisso de inaugurar um novo ciclo. A eclosão dos atos criminosos e golpistas de 8 de janeiro foi, nesse contexto, um marco definitivo para uma reação das instituições e da sociedade.

O presidente Lula (PT) e o ministro dos Transportes, Renan Filho - Pedro Ladeira - 29.dez.22/Folhapress

Temos tarefas importantes, em todas as áreas, para reparar nossa democracia e fazer o Brasil avançar. Além da imediata superação da miséria, precisamos solucionar gargalos históricos na infraestrutura, que impactam o custo Brasil e encarecem a comida no prato do trabalhador. A redução das desigualdades passa pela modernização da logística de transportes, para ampliar a circulação de pessoas e cargas, movimentar a economia e gerar empregos.

Urge rompermos o ciclo vicioso atual: baixa capacidade de investimento, aumento constante da demanda e deterioração gradual das vias. Sem ferrovias, o tráfego pesado de caminhões só cresce, elevando a insegurança nas estradas e os níveis de emissões de gases na atmosfera. A quem interessa manter esse modelo?

Há três desafios imediatos: melhorar a gestão e a eficiência do gasto, atrair novos investimentos e estimular a adesão do setor aos princípios da agenda ESG, com responsabilidade socioambiental e compliance nos negócios. Temos causas em comum e consensos mínimos para reconstruirmos nossas bases como nação, carente de democracia e de infraestrutura. Tanto uma como a outra demandam manutenção permanente, sob pena de deterioração. Outros paralelos são possíveis nessa relação.

Quando a malha viária é ampla e operacional, a infraestrutura possibilita escolher caminhos. Condutores, passageiros, transportadores e pedestres têm o dever, no entanto, de respeitar as regras e andar dentro dos limites da legislação. Se a infraestrutura é maltratada, no outro extremo, a democracia também padece. Uma ferrovia que não sai do papel ou uma rodovia intransitável por falta de investimento, como vimos nos últimos anos, corresponde à restrição de direitos e liberdades. Definitivamente, não é isso o que queremos.

Crucial repactuarmos o entendimento sobre o que é viver numa sociedade democrática, ainda que desigual. Haverá falhas a corrigir, na infraestrutura e nas instituições. Caberá à boa política, sem revanchismo ou sectarismo, construir novas pontes, reais ou simbólicas. Aos criminosos, o rigor da lei.

Mais do que nunca, o Brasil precisa de discursos e ações que reconectem, por meio de um novo contrato de solidariedade recíproca, os três Poderes, a elite econômica, a classe política e o povo brasileiro. Priorizar a infraestrutura, com visão estratégica, boa governança e interesse público, é pré-requisito para pavimentarmos as vias democráticas que vão nos conduzir ao futuro que almejamos.

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