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Japão em armas

País asiático abandona pacifismo para enfrentar China ao lado dos Estados Unidos

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Primeiro ministro do Japão, Fumio Kishida, encontra Joe Biden, presidente dos EUA, na Casa Branca - Jonathan Ernst/Reuters

Grandes mudanças geopolíticas são processos de anos, quando não décadas, mas que a historiografia costuma marcar com datas específicas. Talvez o 13 de janeiro de 2023 venha a ser uma delas.

Na última sexta, o presidente dos EUA, Joe Biden, recebeu o premiê japonês, Fumio Kishida. Nada anormal, exceto pelo contexto. Após um longo período de pacifismo imposto e depois absorvido pela sociedade japonesa, Tóquio recebeu a bênção oficial dos americanos para a remilitarização.

Não é algo banal. A Constituição ditada em 1947 pelos EUA ao império expansionista, esmagado na Segunda Guerra Mundial, interditava a capacidade ofensiva das Forças Armadas nipônicas. Essa diretriz dos ocupantes ocidentais forjou a dinâmica da política interna do país nas décadas seguintes.

De um lado, o pacifismo esposado por grande parte da população, traumatizada pela destruição que a agressividade imperial trouxe. Do outro, nacionalistas inconformados com o que viam como perda de soberania e identidade pela imposição dos vencedores da guerra.

As Forças de Autodefesa do Japão buscaram formas de escamotear capacidades de agressão, mas são obrigadas a não ter muitos dentes.

Ao longo dos últimos anos, formou-se na classe política japonesa uma maioria em favor da normalização do país como ator externo responsável. Os crimes do império até 1945, sustentam, já foram devidamente pagos com juros.

Nem todos, como os rivais amigáveis sul-coreanos, concordam, mas os americanos viram na disposição um instrumento útil para a competição contra a China —adversário comum que têm com Japão, Índia e Austrália, seus aliados no fórum estratégico Quad.

Assim, Biden enalteceu a decisão japonesa de dobrar seu orçamento militar para 2% do PIB, uma enormidade dado que o país asiático é a terceira maior economia do mundo, atrás dos EUA e da China.

Tóquio, ciosa dos momentos de hesitação americana no passado, ampliou sua rede de apoio a outros parceiros ocidentais —firmando a criação de um novo caça com britânicos e italianos, por exemplo.

Entretanto, como o chanceler japonês disse recentemente à Folha, o fundamento de sua política externa está no acerto com os americanos. O passo final será a mudança constitucional liberando as amarras militares, o que parece certo. Uma era terá então se encerrado na geopolítica.

editoriais@grupofolha.com

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