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O que a Folha pensa forças armadas

Lula e os militares

Se presidente faz bem em dialogar, Forças devem superar aviltamento bolsonarista

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Soldados do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) em frente ao Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress

Dentre os inúmeros problemas institucionais criados pelo governo Jair Bolsonaro (PL), um dos mais espinhosos foi a cooptação de setores das Forças Armadas e da área de segurança para apoiar seu projeto político de feições autoritárias.

O ex-presidente estimulou a politização da caserna e nomeou para cargos federais uma quantidade inédita e descabida de policiais e militares, entre eles oficiais de alta patente na ativa —o que deveria ser vedado pela legislação.

Ressalte-se que as investidas para instrumentalizar as forças e alimentar fantasias golpistas não atingiram essas instituições como um todo. Foram, contudo, acolhidas por círculos influentes, representados em postos de comando, e aplaudidas pela horda fanatizada a pedir intervenção militar.

Trata-se, sem dúvida, de uma herança difícil para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para piorar, no oitavo dia do novo governo, assistiu-se ao ignóbil ataque contra a sede dos Poderes na capital federal, que ocorreu após a instalação de acampamentos em portas de quartéis, arruaças em vias públicas e a tentativa de explosão de uma bomba num caminhão de combustível.

É evidente que barbáries desse quilate não ocorreriam sem falha ou negligência grave por parte de autoridades federais e locais, o que ainda está por ser devidamente apurado. Fato é que Lula tem pela frente a tarefa de desmilitarizar o Planalto e desfazer o aparelhamento bolsonarista do Estado.

Durante a semana foram dispensados dezenas de militares de postos na Presidência —sendo 38 deles do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão antes ocupado pelo general Augusto Heleno, um dos mais inflamados seguidores do mandatário anterior.

Também houve troca de comando da Polícia Federal em 18 estados e afastamento de 26 superintendentes da Polícia Rodoviária Federal, outras instituições que Bolsonaro operou para aviltar.

Com o propósito de estabelecer uma relação mais estável e objetiva com o meio militar, Lula, num gesto correto de aproximação e diálogo, reuniu-se com os comandantes das Forças nesta sexta-feira (20).

Não pode restar dúvida de que, numa democracia, Exército, Marinha e Aeronáutica estão a serviço do poder civil consagrado nas urnas —a Constituição brasileira é cristalina a respeito. O que se deve examinar é o meio mais eficaz de superar o aviltamento institucional semeado por Bolsonaro.

À cúpula militar, que não cedeu à cantilena golpista, cabe apurar e coibir os desvios que prejudicaram a credibilidade das corporações.

editoriais@grupofolha.com

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