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O que a Folha pensa inflação

A bazófia de Lula

Presidente desafia o bom senso econômico, em contraste com esforços de ministros

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa durante encontro com centrais sindicais, em Brasília - Adriano Machado/Reuters

Não satisfeito com os discursos anteriores à posse que fizeram disparar os juros de mercado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua a desafiar o bom senso em temas econômicos com autoconfiança inaudita em seu terceiro mandato.

Na quarta-feira (18), loquaz durante uma entrevista, criticou a autonomia formal do Banco Central, a seu ver uma bobagem, e defendeu uma meta de inflação mais alta —pois, afinal, o Brasil precisa crescer. "Onde estão a inflação e os juros?", indagou o mandatário.

Também atribuiu uma suposta incompatibilidade entre responsabilidade fiscal e social à "ganância das pessoas mais ricas". Nesta quinta (19), arengou contra "essa gente do mercado", que para ele só aprova gastos com juros da dívida. "A gente podia não ter nem juro", asseverou o petista.

A esta altura, é preferível acreditar que se trata de demagogia oportunista —pior será se Lula de fato acreditar em tais disparates e não estiver disposto a ouvir técnicos e estudiosos da matéria. Ou se ignorar que juros e inflação estão altos, em quase todo o mundo, porque ainda há um legado de desequilíbrios da pandemia de Covid-19.

No caso brasileiro, o fenômeno é agravado pela imprudência na gestão do Orçamento, impulsionada pela farra eleitoreira de Jair Bolsonaro (PL) e aprofundada pelo atual governo com a PEC da Gastança.

O presidente, aliás, gaba-se de trabalhar por mais desequilíbrio das contas do Tesouro Nacional, com a promessa de livrar do Imposto de Renda ganhos até R$ 5.000 mensais. Tal propositura, além de ruinosa para a arrecadação, seria péssima política pública, por subsidiar estratos com rendimentos muito acima da média nacional.

Não deixa de guardar coerência, infelizmente, com a velha e falsa tese de que a tolerância com a inflação favorece o crescimento sustentável —que Lula repete como se desconhecesse os funestos experimentos de Dilma Rousseff (PT).

Quanto aos famigerados juros da dívida, o falatório omite que o meio mais eficaz de não depender de credores é não precisar de ainda mais dinheiro emprestado.

É notável que, em contraste com a bazófia de Lula, ministros da área econômica venham dando sinais de sensatez. Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento, mostram preocupação com o ajuste fiscal. O vice Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) descartou retrocessos nas reformas previdenciária e trabalhista.

Talvez o mandatário queira principalmente manter sua base mais ideológica mobilizada, mesmo que sob o risco de sabotar a retomada do emprego e a melhora da renda. Fato é que, além da retórica, as medidas concretas tomadas até aqui não inspiram otimismo.

edioriais@grupofolha.com

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